Há razões externas e internas para explicar o recente rali do dólar, que no início do mês chegou a R$ 3,99 e ontem fechou a R$ 4,258 renovando sua cotação recorde em termos nominais. Economia americana forte, guerra comercial e aversão ao risco nos mercados sul-americanos pelos episódios de instabilidades no continente são os principais fatores alheios ao Brasil, mas que afetam o real. Até aí, as autoridades brasileiras nada têm a fazer. Por outro lado, não são escassos os motivos domésticos para o estresse no câmbio. É neste front que é possível agir, o que não significa qualquer tipo de voluntarismo.
O drama não está exatamente na cotação acima ou abaixo de R$ 4,00, mas na grande volatilidade da moeda americana
Em primeiro lugar, não há surpresa na saída de capitais parasitários que viam o Brasil apenas como um hospedeiro generoso onde se nutriam com juros estratosféricos. Acabou a farra do ganho fácil, mas o Brasil peca na atração, pelo outro lado, de recursos de qualidade, que apostem no longo prazo e na retomada do desenvolvimento, por meio de investimentos produtivos e diretos. O gatilho para essa percepção se generalizar foi o fracassado leilão do pré-sal. Com a retração das petroleiras internacionais, a propalada chuva de dólares não veio.
A economia anêmica inibe os investidores estrangeiros. Com o mundo crescendo menos, as exportações brasileiras também recuam, levando a um menor ingresso de divisas. A agenda de reformas em banho-maria é outro fator a decepcionar. Como se não faltassem ingredientes nesta receita indigesta, o ministro Paulo Guedes queimou duas vezes o assado ao voltar a falar em AI-5 e a sugerir que havia espaço para o dólar subir mais. Foi a senha para os especuladores entrarem com força apostando contra o real.
Não há a necessidade de qualquer medida espetaculosa para conter a disparada do dólar. A correção virá ao natural se quem fala pelo governo moderar o palavreado e deixar de alimentar suspeitas de ambições antidemocráticas. Ao mesmo tempo, ajudaria a economia real, reinjetando em empresários e consumidores a confiança em tempos menos turbulentos. Sem esquecer, claro, de voltar-se novamente à agenda reformista.
O câmbio no Brasil é flutuante. Ao Banco Central, não cabe tentar mover a cotação para este ou aquele nível, mas apenas intervir em momentos de maior tensão, como nos últimos dois dias. O drama não está exatamente no preço acima ou abaixo de R$ 4,00, mas na grande volatilidade. É um tormento para a agricultura, por exemplo, que tem grande parte dos custos dolarizados. Forma a lavoura com determinado patamar de dólar, sem saber a quanto estará a conversão no momento de colher. O mesmo vale para todos os setores que precisam importar ou exportar. No horizonte, onde deveria haver previsibilidade, se divisa mais insegurança.