Chegou a 13,5 milhões de pessoas no ano passado, um contingente superior à população do Rio Grande do Sul, o número de brasileiros que vivem na pobreza extrema, com ganho diário inferior a US$ 1,90. Ao virar o século, parecia que o país iniciava de forma definitiva uma trajetória de redução da miséria. Mas, desde 2015, com a chegada da recessão, o Brasil vive uma reversão de expectativas. Mesmo que se possa atribuir o aumento da quantidade de carentes à crise, os indicadores apresentados na quarta-feira pelo IBGE permitem chegar a outras conclusões que vão além da situação econômica.
Somente com um aprendizado mais robusto, especialmente nas escolas públicas, o país será capaz de dar oportunidades para que estudantes mais pobres construam um futuro melhor
Em primeiro lugar, embora seja necessário reconhecer a importância dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, está evidente que chegaram a um limite quanto à capacidade de tirar uma parcela maior de indivíduos do estrato dos mais desprovidos. A segunda inferência possível é de que, mais do que uma retomada mais forte da atividade, o Brasil precisa de uma revolução na educação, que vá na direção de melhor preparar crianças e jovens para a cidadania e o mercado de trabalho.
Somente com a oferta de um aprendizado mais robusto, especialmente nas escolas públicas, o país será capaz de dar oportunidades para que estudantes mais pobres construam um futuro melhor, quebrando o círculo vicioso que hoje realimenta a miséria. Instrução é sinônimo de maior produtividade da mão de obra, que significa possibilidade de obter melhor renda.
Ensino, desenvolvimento e emprego formam uma espécie de tripé. Relacionam-se, com um fator impactando o outro, mas hoje, no Brasil, são elementos que precisam passar por uma profunda reformulação para que possam gerar crescimento sustentável, saudável e com inclusão.
A começar pela prioridade à educação básica. Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), aplicado em 70 países, estão aí para demonstrar o desempenho pífio do Brasil, ocupante das últimas posições em matemática, ciências e leitura.
Com tantas amarras a travar o país, é preciso dar atenção às frentes que darão resultado em um prazo um pouco maior, como o ensino, mas sem descuidar de aspectos que têm reflexo mais imediato, como o combate à burocracia e à complexidade tributária que empesteiam o ambiente de negócios no país. Nestes dois últimos pontos, há sinais promissores, que podem contribuir para o país recobrar um maior grau de confiança interna e externa que se reflita em uma nova onda de investimentos, sobretudo em infraestrutura. Na educação, infelizmente, não é possível vislumbrar, até agora, nada que possa ser considerado alvissareiro.