Treze anos após ser descoberto, quando foi considerado uma espécie de bilhete premiado, o pré-sal se firma como um ativo estratégico para impulsionar o crescimento do Brasil e alçar o país à condição de potência energética global. Responde hoje por mais de 60% da produção nacional de petróleo, e promete mais. A consolidação deste cenário em que tudo é superlativo terá nesta quarta-feira o grande momento, com o megaleilão do excedente da cessão onerosa. Se todos os blocos forem arrematados pelos valores projetados, será o maior certame do gênero já realizado no mundo.
A estimativa do governo é de arrecadar mais de R$ 100 bilhões a partir da oferta de quatro áreas do pré-sal da Bacia de Santos, reservas que estão despertando a cobiça de algumas das mais importantes petroleiras do mundo. A atratividade é baseada em fatores como o fato de já ser conhecida a existência de grandes volumes de óleo e gás, mitigando os riscos exploratórios naturais da atividade, que às vezes podem gerar frustração. Além disso, o ataque a instalações de petróleo da Arábia Saudita em setembro aumentou o interesse no Brasil por ser uma região estável em termos geopolíticos e livre de ações de grupos terroristas.
Os recursos arrecadados no megaleilão de hoje trarão imensos benefícios para o país em um momento de fragilidade fiscal em todos os níveis da federação
Os recursos que serão arrecadados com o pagamento do chamado bônus de assinatura, que significa o direito de explorar as áreas, trarão imensos benefícios para o país em um momento de fragilidade fiscal em todos os níveis da federação. É dinheiro que entrará ainda neste ano e em 2020 para União, Estados e municípios.
Estima-se que o governo federal ficará com R$ 48 bilhões, com um impacto significativo na previsão de déficit primário para 2019, hoje projetado em R$ 139 bilhões. Da mesma forma, o Rio Grande do Sul receberia cerca de R$ 450 milhões e os municípios gaúchos dividiriam outros R$ 737 milhões, verba que virá em boa hora para pagar dívidas previdenciárias ou realizar investimentos.
Há ainda que se considerar o substantivo impacto na economia que virá com os aportes necessários para se retirar o petróleo das reservas. Os números, mesmo discordantes, são imensos. Enquanto a Agência Nacional do Petróleo calcula até R$ 1,5 trilhão nos próximos 10 anos, o Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) antevê R$ 540 bilhões até 2030, levando o Brasil a ser um dos cinco maiores produtores mundiais. Virão ainda os royalties e os empregos que certamente serão gerados com a possibilidade de renascimento da cadeia industrial e de serviços voltada à área, abatida pela crise que tragou a Petrobras. Embora o mundo busque acertadamente um caminho para diminuir a dependência dos combustíveis fósseis, o petróleo ainda reinará absoluto pelas próximas décadas. A riqueza do pré-sal dá uma segunda chance ao Brasil.