Por Ricardo Hingel, economista
Quando qualquer empresa é criada, organiza-se se um conjunto de estratégias, procedimentos internos e externos, relacionamentos com seus públicos internos e externos, suas tecnologias, seus produtos e marketing. Empírica ou explicitamente, todas desenvolvem seus valores e identidades.
O segredo da perpetuação das empresas passa muito pela preservação e pelo aperfeiçoamento desse conjunto de valores que representará a cultura da empresa, o que deve protegê-la ao longo da vida e, em especial, em momentos de ameaças e mudanças. A cultura, por seu caráter intangível, é como se representasse a alma da empresa. Por sua intangibilidade, muitas vezes, recebe um valor menor no conjunto de ativos de uma empresa, olhada muito mais por seus prédios, máquinas, tecnologias, resultados e dividendos, quando, na realidade, estes podem, por vezes, ser apenas resultantes de uma cultura de sucesso. A cultura da empresa deve estar enraizada em todos os níveis hierárquicos de uma organização, o que deve protegê-la de mudanças em seus escalões superiores. A cultura ou alma reside nas pessoas que são quem as carrega, e não nas máquinas e prédios.
Existem dois importantes momentos de risco, mesmo para empresas bem organizadas e de sucesso, que são suas questões sucessórias. Mudanças geracionais nas empresas familiares ou de quadros de executivos em empresas devem entender e respeitar a cultura que deu certo. Novas ideias ou ideias inovadoras não são necessariamente ideias melhores. Afrontar culturas pode ser um bom começo do fim. Executivos maduros ou preparados, especialmente de fora, devem reconhecer que, por melhor qualificados que possam ser, há uma cultura a ser respeitada e preservada e, antes de mais nada, entendida. A disrupção, por si só, também não é garantia de sucesso. Confrontar também não.
O extraordinário sucesso da Apple significou estratégias de inovação, utilidade e antecipação de demandas dos consumidores que persistiram mesmo após a morte de seu criador e pai de sua cultura e alma. Inúmeras outras empresas poderiam ser referidas, mas a Apple e sua sucessão após a morte de seu criador, Steve Jobs, são um exemplo bem acabado da prevalência da cultura de sucesso e sua imposição sobre os administradores de plantão.
Do lado oposto, colecionamos inúmeros casos de empresas de sucesso compradas por grandes grupos que demitiram suas culturas e acabaram fechadas ou vendidas por valores simbólicos. Quem acompanha um pouco o mundo empresarial pode visualizar diversas identidades para este retrato falado.