Por Alfredo Fedrizzi, jornalista e consultor
Outro dia ouvi de um motorista do Uber: “Por que os governantes que assumem, depois de eleitos, se queixam da falta de dinheiro? Eles já sabiam que não tinha antes de se candidatar”! A questão é mais de mentalidade e disposição para enfrentar resistências do que de dinheiro. É só não ficarem tão presos às dificuldades da burocracia, que pensa “vou fazer assim porque sempre foi feito assim”. E pensar em como usar parcerias e tecnologia para beneficiar as pessoas e resolver problemas do dia a dia. O governante precisa se colocar no lugar do contribuinte, fazendo-nos gastar menos tempo em filas, trânsito, documentos inúteis e outras coisas desnecessárias.
Um amigo esteve na pequena Estônia e ficou impressionado: “Estão exportando soluções de identidade eletrônica, abertura de empresas em dois minutos, serviços de saúde, tudo digital, com uma fração do custo e muito mais conveniência ao contribuinte. Já transferiram know-how para 70 países, como o Japão, Espanha e Etiópia”. Em vez de querer fazer tudo dentro de casa, os órgãos públicos podem aproveitar mais o que a sociedade já faz bem, com menos custo, através de acordos com entidades e empresas. Seja pela via digital ou não. Afinal, qualquer coisa online é digital e, hoje, tudo é online.
Um exemplo nada digital é o do ex-prefeito de São Francisco, nos EUA: um dia por semana, ele visitava empresas e perguntava como a prefeitura poderia ajudá-los a crescer (e gerar mais empregos e impostos).
Há alguns anos, um Secretário de Estado do RS repassou dinheiro a entidades em vez de ampliar a Fase e outros espaços estatais. As crianças foram melhor atendidas por um custo infinitamente menor.
Vejo que a prefeitura de Porto Alegre está mexendo nessa mentalidade. Na educação, estimularam 11 startups a desenvolver soluções para escolas. Começaram a fazer parcerias com empresas privadas, órgãos públicos estatais e não estatais para aumentar e melhorar a oferta de educação na cidade. Isso pode tornar o ecossistema educacional mais diversificado e criativo.
Na saúde, iniciaram parcerias para ampliar o número de leitos hospitalares: o Mãe de Deus assumiu a gestão do Santa Ana, e a Associação Hospitalar Vila Nova assumiu o Hospital Restinga. Já é um início, para uma sociedade que vê tudo com desconfiança. O caminho precisa ser o de deixar mais tempo para os cidadãos desfrutarem a vida e produzirem mais, em cidades mais bonitas, funcionais e seguras.