Por Anik Suzuki, CEO da ANK Reputation e membro do Conselho Editorial da RBS
Como a gente esquece fácil. Para onde vão nossas memórias? As cenas cotidianas que fizeram de nós quem somos: as histórias, os ensinamentos e o tempo que tivemos com os nossos pais, a cumplicidade com nossos irmãos, as brincadeiras e os segredos com os amigos, o frio na barriga, as descobertas e as experiências na escola, as paixões, as despedidas e os ritos de passagem, como nossos aniversários, formaturas, viagens, mudanças. Para onde vão essas memórias, e o que é capaz de trazê-las à tona?
Sejamos justos: essa busca incessante por excelência, somada ao amor pelo Brasil e pelos brasileiros, foi decisiva para promover neste nosso país gigante, de tantos sotaques, desafios e divergências, uma identidade única, visual e cultural, a nossa brasilidade
Pois nessa semana que passou, completamente desavisada, vivi um turbilhão de emoções despertado por reportagens históricas do Brasil e do mundo, pelas grandes coberturas das últimas décadas, pelos personagens de novelas, trilhas sonoras, artistas, comediantes, apresentadores, pelas cenas do esporte e nossos atletas de todos os tempos.
O show dos 60 anos da TV Globo, que espetáculo! O Jornal Nacional ao vivo dentro da casa dos brasileiros, quanta competência e sensibilidade. As homenagens aos que tornaram tudo isso possível com o seu empreendedorismo, talento, criatividade, determinação e muito trabalho, todas merecidas.
Aprendi com meu pai e com a cultura nipônica a atenção aos detalhes, o valor do trabalho (muito) bem-feito e a busca pela excelência. Com a minha mãe, entendi o impacto que a beleza e a ordem trazem para a vida da gente. Assim, impossível não reconhecer que a Globo carrega em seu DNA o compromisso com a estética, com o cuidado artístico, com o desejo de entregar algo impecável ao público.
Sejamos justos: essa busca incessante por excelência, somada ao amor pelo Brasil e pelos brasileiros, foi decisiva para promover neste nosso país gigante, de tantos sotaques, desafios e divergências, uma identidade única, visual e cultural, a nossa brasilidade. A Globo construiu um modelo de televisão, da qual a RBS TV faz parte desde o princípio, que soube valorizar as regionalidades e, ao mesmo tempo, conectar esse país continental consigo mesmo, ajudando-nos a construir nossa autoestima, a sentir orgulho de quem somos.
Quanto a gente dá conta de ver, aprender, sentir e viver em 20, 40 ou 60 anos? Muito, mas infinitamente menos, se o fizermos sozinhos. Por isso, ao passar a limpo esses 60 anos da TV Globo, com seus erros e acertos como qualquer pessoa, empresa ou instituição, enxerguei minha própria história e senti gratidão.