Pedro Henrique Boeira Muniz, 17 anos, e Rute Marlei Pinto da Silva, 35 anos, têm trajetórias de vida diferentes. Mas dividem a mesma conquista: ter passado no vestibular da UFRGS. Moradores de Alvorada, eles foram alunos do Curso Pré-Vestibular Popular Minervino de Oliveira, que, há dois anos, oferece aulas de graça a jovens e adultos.
Para o coordenador-geral do cursinho, Rafael Cerva Melo, a aprovação dos estudantes consolida o objetivo da iniciativa, que é tentar mudar a vida de moradores de Alvorada por meio do ingresso na universidade:
— A gente trabalha para dar alternativa a quem talvez nem pensasse que pudesse entrar na universidade pública.
Em meio à rotina de trabalho
O caminho de Rute até ter seu nome no listão da UFRGS foi longo. Ela se desafiou a estudar para o vestibular mais concorrido do Estado 18 anos depois de concluir o Ensino Médio na Escola Estadual Antônio de Castro Alves.
Rute começou a carreira trabalhando como operadora de caixa. Há 10 anos, atua na área de saúde bucal, primeiro como auxiliar e, agora, como técnica na Unidade Básica de Saúde (UBS) Umbu.
— No Ensino Médio, tinha medo de sangue. Fiz os cursos para trabalhar com saúde bucal e superei isso. Hoje, o que mais gosto é acompanhar cirurgias dentárias — conta.
Estudo e trabalho
Seu foco sempre foi passar no curso noturno de Odontologia da UFRGS, para que pudesse seguir trabalhando. Ela tentou em 2017 e 2018. O êxito veio apenas em 2019. Ao longo da preparação, Rute trabalhava normalmente:
— Comecei a fazer o cursinho no meio do ano. Tinha dificuldade em física, química e biologia e não sabia mais para onde correr. Lá, encontrei professores motivados.
Dessa vez, Rute não quis saber o número de candidatos por vaga nem ver o gabarito das provas. Deixou a surpresa para a data de divulgação do listão, dia 18 de janeiro.
— Foi inexplicável. Chorei e gritei muito. Senti alívio e gratidão por todo mundo que me ajudou — afirma Rute, lembrando do apoio do marido, Jeferson, 41 anos, que assumiu as tarefas da casa para que ela pudesse estudar.
Dedicação de toda família
Mesmo com um histórico de boas notas, Pedro não esperava entrar no curso de Engenharia Mecânica da UFRGS na primeira tentativa.
— Fiquei sem reação quando vi meu nome no listão. Eu ter conseguido mostra que outros estudantes como eu também podem — diz.
Em 2018, enquanto concluía o Ensino Médio na Escola Estadual Vale Verde, o jovem fez o cursinho no Minervino e estudava outras cinco horas por dia em casa:
— A força dos professores fez toda diferença. Eles nos diziam para não desistir porque, se não desse pelo Enem, teria o vestibular da UFRGS e, ainda assim, nosso desempenho em uma prova não balizaria toda a nossa capacidade.
Os pais, o montador Márcio Santos Muniz e a dona de casa Daiani Boeira Muniz, ambos com 40 anos, fizeram um esforço para o plano dar certo: Márcio fez horas extras ao longo do ano para que o filho não precisasse trabalhar.
— É o sonho da vida dele — diz o pai, orgulhoso.