Aprovada em todos os seis vestibulares que prestou entre o ano passado e 2019, a gaúcha Carolina Bonatto do Amarante, 18 anos, é a única candidata da Região Sul do país a tirar nota mil na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Natural de Porto Alegre, a futura estudante da Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) relembra, com voz tímida e riso contido, que a rotina de estudos chegava a 12 horas diárias.
— Fiquei extremamente feliz. É muito gratificante ver que, depois de um ano de estudo, tudo deu certo. Eu estava insegura, porque o curso que escolhi é muito concorrido, mas, no fim, valeu a pena ter ficado em casa estudando — diz Carolina.
A estudante ia pela manhã para o cursinho pré-vestibular Método, de turno integral, voltava para casa e estudava, aproximadamente, mais cinco horas, divididas entre revisar o conteúdo do dia e fazer exercícios para fixar a matéria. Aluna do Colégio João Paulo I – Higienópolis, da rede privada de ensino, a jovem fez as edições de 2016 e de 2017 do Enem, quando ainda cursava o Ensino Médio, como teste preparatório para o grande desafio que estava por chegar. Apesar da rotina intensa de estudos, ela ficou surpresa com o desempenho conquistado em 2018.
— Eu jamais esperava ir bem no Enem. Sempre me enxerguei tendo melhores notas no vestibular da UFRGS, mas, no ano passado, decidi focar mais neste exame, porque ele abre muitas portas, e eu não poderia ter só uma opção ou chance de entrar na universidade — conta Carolina.
A estudante revela que ia bem nas redações da escola, mas não obtinha resultados espetaculares como o conquistado no Enem. O aprimoramento da escrita aconteceu com o aprendizado proporcionado pelos erros cometidos nos textos anteriores, com as dicas recebidas durante as aulas do cursinho pré-vestibular, com as duas redações semanais que eram escritas, mas, principalmente, com um método especial criado por ela mesma.
— Fiz um caderninho de redações para mim. Nele, anotava ideias de temas, pesquisava informações sobre eles e escrevia os textos. Essa técnica me deu mais confiança e segurança no momento da escrita. Ali, eu anotava também as palavras que eu mais errava na hora de escrever. Isso me ajudou a memorizar a grafia correta — diz.
Já a tática usada por Carolina no momento da prova foi a de, literalmente, pipocar entre a prova objetiva e a de texto. Assim que ela leu o tema, jogou no papel todas as ideias que pensou em desenvolver e as possíveis abordagens sobre o assunto. Na sequência, realizou uma parte das questões – enquanto esperava outras ideias surgirem em mente –, rascunhou a redação e o que seria colocado na introdução, desenvolvimento e conclusão. Só aí, finalizou as perguntas objetivas, revisou o rascunho e o passou a limpo na folha de respostas.
— Revisei bastante, porque o texto precisava estar coeso e com lógica. Terminei em cima do tempo. Fui a última a sair, sempre sou a última a deixar as salas de prova — diverte-se a jovem.
O tema proposto pelo Enem, “manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”, não era esperado por Carolina, mas ela conseguiu reaproveitar assuntos que já tinha estudado para compor a redação:
— O caderninho me ajudou, porque eu pude pegar ideias que já havia pesquisado para outros textos. Aí, incluí a série Black Mirror para falar sobre o futuro distópico e como os meios de comunicação estão mudando nossas vidas. Além disso, citei como a indústria cultural utiliza esses dados para influenciar a decisão das pessoas.
De férias até o início do ano letivo na UFRGS, que começa em março, a futura médica – fã de indie e da série The Walking Dead – quer aproveitar para comemorar a conquista dançando funk com os amigos.