Por Pamela Morrison, publicitária e idealizadora da feira cultural de rua
A chacina que aconteceu neste inicio de 2019 na Cidade Baixa, em Porto Alegre, traz de volta uma questão sempre pertinente: as pessoas devem ou não ter o direito de tomar bebida alcoólica na rua?
A ocupação dos espaços públicos é extremamente importante e saudável para a construção do ser humano e da sua relação com as pessoas e a cidade. A rua deve ter como principio básico o senso de coletividade, ou seja, o bom convívio entre as pessoas e o cuidado com esse espaço, uma vez que ele é de todos. Diversificada, a rua é expressão e reflexo da cultura local e de seus moradores e frequentadores.
Há tempos está em discussão a vida noturna de Porto Alegre, que luta para sobreviver, principalmente no bairro boêmio Cidade Baixa, com sua badalada vida noturna. Quem não gosta de circular por suas ruas arborizadas, pelos cafés, restaurantes e bares, que se misturam ao comércio local?
Mas nem tudo são flores no bairro. Se com os frequentadores de bares já tínhamos grandes problemas com música alta, garrafas quebradas, lixo, gritaria, consumo e tráfico de drogas, roubos e estupros, desde que a rua vem sendo cada vez mais ocupada esses problemas cresceram e incomodam não só vizinhos, mas também os próprios frequentadores do bairro.
Tem, ainda, a questão da segurança, um tema urgente que nos últimos anos assolou a cidade e o Estado. Se antes era tranquilo circular pelas ruas à noite e de madrugada, atualmente nem de dia temos essa liberdade. Pessoas na rua trazem uma sensação de segurança, mas sem o devido apoio das entidades públicas, como a Guarda Municipal e a Brigada Militar, não é garantido a ordem.
Mas o que fazer, então? A falta de uma política pública para a criação e legalização de bares, a melhora na infraestrutura desses locais, como prevenção a incêndio e acústica, além de um horário de funcionamento adequado com a demanda, empurra as pessoas para rua. E a rua não oferece infraestrutura adequada para o público.
É preciso investir em lugares que promovam a cultura, sejam eles abertos ou fechados, pagos ou gratuitos. O lazer é essencial para o ser humano e a cidade precisa oferecer esses espaços.
Mas voltando à pergunta inicial, as pessoas devem ou não ter o direito de tomar bebida alcoólica na rua? Eu acredito que sim, devemos ter esse direito! E acredito mais: a cidade deve oferecer espaços de cultura e lazer, gratuitos e acessíveis para as pessoas, de forma organizada, que fomente a economia, gere empregos e valorize o trabalho de artistas. Mas também defendo que cada um desempenhe seu papel e que faça por merecer para conquistar esse direito! Que cada um dê bom dia, peça licença, diga obrigada, tenha empatia pelo próximo e respeite o espaço e as opiniões dos outros.