Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Em Porto Alegre, já não é incomum vermos carros e motocicletas furando sinal vermelho. Acostumamo-nos aos veículos estacionados em fila dupla e às motocicletas circulando em calçadas. Poucos parecem lembrar que o limite de velocidade de ruas internas é 40 km/h ou menos. Muitos motoristas parecem não recordar que bicicletas têm direito à circular nas ruas. O trânsito está piorando...
De modo geral, os acidentes vinham em tendência de queda até a pandemia
Esta percepção encontra respaldo nos dados. Em 2024 tivemos 12,7% mais acidentes do que em 2019. Os acidentes com feridos aumentaram 20,6% e as mortes aumentaram 11,1% neste intervalo. Se olharmos um período mais longo, veremos que, de modo geral, os acidentes vinham em tendência de queda até a pandemia. Após 2021 os números voltaram a crescer.
Ao passo que cresce a hostilidade nas ruas, com acidentes e mortes em elevação, a fiscalização perdeu ímpeto — vou usar dados de 2023 em função da enchente de 2024. As abordagens em blitze caíram muito: em 2023 foram 18.545 veículos abordados, sendo que em 2019 haviam sido 22.741. A operação Balada Segura também encolheu, passando de 8.546 veículos abordados antes da pandemia para 2.999 em 2023 (queda de 64%). Do ponto de vista de autuações, em 2019 foram aplicadas 528 mil multas, contra 431 mil em 2023 (queda de 18,3%).
Em 2019 foram 24,5 mil multas por furar o sinal vermelho, sendo que em 2023 este número cai para 14,5 mil. Em 2019 foram 26,2 mil multas para motoristas que seguravam ou manuseavam celular enquanto dirigiam (em 2017 e 2018 estes números superavam os 30 mil). Já em 2023 foram aplicadas 21,3 mil. Ouse seja: a percepção de cada vez mais as pessoas usam e falam ao celular no trânsito está acompanhada de uma queda de 18,7% nas multas para esta infração.
Em suma, em uma análise breve dos números, fica evidente o seguinte: temos aumento da acidentalidade e da percepção de que o trânsito está pior; ao mesmo tempo, os dados de fiscalização encolhem. Educação para o trânsito parece que não está compensando o esmorecimento das medidas de sanção. Não estaria na hora de mudar a estratégia e passar a fiscalizar mais duramente?