Por Antônio D. Benetti, professor de Saneamento do IPH-UFRGS
O abastecimento de água potável à população deve ser uma política prioritária de governos preocupados com o bem-estar de seus cidadãos. Água contaminada causa doenças e mortes. Intervenções em abastecimento de água e coleta de esgotos apresentam alto retorno econômico em termos de prevenção de doenças e mortes evitáveis, aumento na produtividade e redução de custos do sistema de saúde. Os benefícios variam entre $5 e $46 para cada $1 de investimento.
Apesar disto, dados oficiais indicam que 16,7% da população brasileira não tem acesso a rede de abastecimento de água potável em suas residências. Isto significa que 55 milhões de brasileiros se encontram em situação de vulnerabilidade com relação ao acesso à água potável. Levando em conta a Este número expressivo não leva em conta outros milhões que, apesar de receberam água por rede pública, enfrentam racionamentos, interrupções frequentes e água de má qualidade. Além disto, 40% da água que é produzida na estação de tratamento não chega as torneiras dos consumidores devido a falhas no sistema de distribuição de água. Na Holanda, as perdas de água são de 2,5% do que é produzido.
Levando em conta a população que enfrenta racionamentos, interrupções frequentes e recebe água de má qualidade, o número eleva-se para 83,5 milhões. (Tabela 4.2, PNSB)
Estimativas do plano Nacional de Saneamento Básico indicam que seriam necessário 122 bilhões de reais a serem aplicados até o ano 2033 para dar acesso a água potável a toda a população brasileira. O procurador geral da República na Operação Lavajato estima que a corrupção no Brasil desvia R$200 bilhões por ano. Portanto, o dinheiro desviado em apenas um ano seria suficiente para prover água potável a toda a população brasileira. Em 3 anos, o dinheiro da corrupção poderia dar acesso a coleta e tratamento de esgotos, disposição adequado de resíduos sólidos urbanos e resolver os alagamentos das cidades. Este é o crime que políticos corruptos fazem ao povo brasileiro.
A recreação em praias de águas doces e salinas é uma das principais formas de lazer dos gaúchos nos verões. Os balneários recebem populações que excedem em muito ao número de habitantes que ali vivem regularmente. Muitos apresentam deficiências na infraestrutura de saneamento. O manejo adequado dos esgotos sanitários é um aspecto muito importante para garantir que as águas se mantenham próprias para recreação.
A chegada de esgotos sanitários ao mar, junto aos locais de recreação, deve ser evitada. Além do aspecto visual desagradável, esgotos contêm microrganismos que causam infecções nos sistemas gastrointestinal e respiratório, olhos e ouvidos. Os locais mais contaminados situam-se nas zonas mais rasas, justamente onde há maior concentração de crianças.
No litoral, é comum o uso de fossas sépticas seguidas por infiltração no solo como método de manejo de esgotos. Estas técnicas são aceitáveis quando as habitações são esparsas e quando há limpezas periódicas das fossas. Frequentemente, esta manutenção não é feita pelos proprietários, e a fiscalização é leniente. Quando as ocupações são mais densas, há necessidade de coletar os esgotos e os encaminhar para estações de tratamento antes do descarte no ambiente.
Na falta de saneamento adequado, os esgotos chegam as praias de diversas maneiras. As formas mais comuns são o descarte direto em arroios que drenam ao mar, as ligações de esgotos nos coletores de águas da chuva, a poluição do lençol freático por sistemas defeituosos de infiltração no solo e mesmo coletores de esgotos sanitários quebrados.
Na forma mais grosseira de poluição, é possível visualizar a chegada dos esgotos ao mar, indicando que ali não é um local adequado para banho. Contudo, nem sempre é possível visualizar a contaminação. Para isto, é necessária à coleta de amostras de água para que, em laboratório, seja quantificada a presença de organismos fecais. A divulgação dos resultados deste monitoramento permite aos usuários conhecer os locais considerados próprios ou impróprios para recreação. É uma questão importante de saúde pública.