A curva do desemprego só vai apontar significativamente para baixo quando houver a combinação de dois fatores simultâneos: a retomada do crescimento nacional e dos investimentos no Rio Grande do Sul, a partir do aumento da confiança do empresariado. De uma forma geral, os atuais e futuros governos estão fazendo a lição de casa, a começar pela crença na responsabilidade fiscal como a base para a volta da confiança. Sem as contas ajustadas, o risco de instabilidade se mantém, afugentando investidores.
É lamentável que uma realidade tão cristalina – contas em ordem como base para atração de investidores – não comova corporações que insistem em aprofundar a crise do Estado com reivindicações e benefícios sem fim. O abismo entre alguns setores públicos à margem da crise e o trágico desemprego na iniciativa privada se aprofunda celeremente, sem perspectivas de reversão que não seja por meio de reformas profundas. Como demonstrou reportagem publicada nesta segunda-feira em Zero Hora, só no Estado, havia 487 mil desempregados no terceiro trimestre. Desse total, 90 mil estavam à procura de ocupação por pelo menos dois anos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A esta altura dos acontecimentos, depois de o governo gaúcho ter demonstrado que o Estado foi à bancarrota, caberia à Assembleia Legislativa capitanear as mudanças. Infelizmente, o parlamento trava a cada vez que algum setor já privilegiado alega ter algum interesse ferido. Os lobbies que impedem avanços para se ajustar as contas no Estado também se estendem ao plano nacional. O desejo de mudança a partir de Brasília, porém, foi tão intenso que pode surgir agora a chance de uma reforma da Previdência e do setor público que abranja também Estados e prefeituras.
Não se pode admitir mais sacrifícios sobre duas áreas já oneradas – trabalhadores e empresas privadas – enquanto o serviço público tem sua estabilidade e aposentadorias integrais garantidas. Como lembrou a secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, em entrevista ao Gaúcha Atualidade na semana passada, é normal que servidores públicos tenham uma remuneração um pouco acima dos trabalhadores do setor privado e que a estabilidade seja uma vacina contra demissões políticas. O que se vê no Brasil, porém, são salários duas ou três vezes maiores que os do setor privado e casos de ineficiência e desperdício protegidos pelo manto da estabilidade.
As reformas são um primeiro passo. Depois, é preciso colocar em prática as promessas de desburocratização, simplificação de impostos e despartidarização da fiscalização que, no fundo, ajudarão a combater o trabalho informal e a sonegação. Estabelecer um ambiente de confiança, no qual o setor público não trabalhe para sufocar o privado, mas que ajude a destravar investimentos, é a chave para a estabilidade, ponto inicial da recuperação econômica e da tão desejada redução do desemprego.