Duas manifestações de autoridades ligadas diretamente às saídas para o impasse fiscal do setor público gaúcho dão uma ideia da gravidade da situação até que o nó seja desfeito. Uma delas é a entrevista concedida a Zero Hora pelo futuro secretário da Fazenda no governo Eduardo Leite (PSDB), Marco Aurelio Cardoso, que demonstrou clareza e ponderação ao se referir aos desafios. A outra é a da secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, considerada um dos melhores quadros da gestão pública nacional. Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, a técnica deixou evidente que a situação fiscal do país é muito delicada. E, de forma mais explícita que o futuro secretário, considerou fantasiosa a possibilidade de Estados em crise pendurarem alguma conta numa União já em dificuldades.
Claras são também as convergências de ambos quando propugnam que todo o setor público deve fazer algum sacrifício em nome de um interesse coletivo maior, que é a ação do Estado em áreas destinadas a beneficiar diretamente os mais desprotegidos. Entre as prioridades, estão saúde, educação e segurança. A secretária deixou implícita a inconformidade da Fazenda com o reajuste nos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). E, finalmente, expôs sem rodeios o que trava o plano de recuperação fiscal do Rio Grande do Sul.
Nesse ponto, ficou claro que há uma evidente divergência entre o atual governador e o eleito e o governo federal, que não abre mão da venda do Banrisul para abater o valor da dívida estadual. A questão é que, nos próximos meses, o poder público precisará fazer um grande debate e assumir posições sobre como sair da crise. E não haverá soluções fáceis.
A entrevista com o futuro secretário gaúcho da Fazenda passou a ideia de que o fato de estar vindo de outro Estado pode ser uma vantagem, por permitir um olhar mais estratégico e menos próximo das corporações. Essa condição reforça a expectativa de que possa encaminhar de imediato alternativas para tentar resolver o que elegeu como prioridades de sua gestão. Além da dívida com a União, incluem-se entre elas a matriz tributária, a política de investimentos e também o elevado comprometimento das receitas com a folha dos servidores.
O Estado já perdeu tempo demais com essas questões. Precisa enfrentá-las logo.