O governador eleito Eduardo Leite (PSDB) reconheceu a "situação dramática" das finanças do Estado, ao final do encontro com o governador José Ivo Sartori (MDB), que marcou o início da transição entre o atual e o futuro governo. Ainda assim, mesmo ciente da gravidade dos números, o futuro comandante do Estado manteve compromissos como o de colocar a folha salarial dos servidores em dia e de não usar recursos obtidos com venda de patrimônio público para cobrir insuficiência de caixa. Diante da projeção de que pode enfrentar um déficit de R$ 3 bilhões a partir de janeiro, o maior assumido por um novo governo, e para não frustrar expectativas, é importante que nem espere a posse para tomar medidas com o objetivo de recuperar os cofres públicos.
As providências precisam ser apresentadas logo e não podem ser tópicas. A simples gestão da crise levará aos mesmos resultados de hoje: um poder público que não consegue atender satisfatoriamente nem os servidores, nem a sociedade. O agravante é que, a cada novo governo, o volume de despesas acima das receitas se mostra ainda maior. Na virada do ano, é provável que nem os vencimentos do mês, nem o pagamento do 13º salário estejam em dia. Se as folhas de pagamento continuarem se sobrepondo, e como há outras pendências, a situação pode se tornar ainda mais crítica do que a registrada hoje. As dificuldades tendem a aumentar ainda mais se a Assembleia não renovar as atuais alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Hoje, o quadro só não é insustentável porque o atual governo fez uma série de ajustes, além de ter aprovado a aposentadoria complementar para servidores e a lei de responsabilidade fiscal. O governo gaúcho está também desobrigado, temporariamente, de desembolsar os compromissos da dívida, o que alivia um pouco o caixa do Estado, e espera um ganho maior a partir da assinatura do Regime de Recuperação Fiscal com a União. Ainda assim, é preciso reverter a fundo a situação das finanças públicas. E isso não será feito sem medidas profundas e sacrifícios de todos.
Sem a mudança de curso, já sob o governo Eduardo Leite, o Estado seguirá navegando nas mesmas águas revoltas da escassez e da falta de investimentos, que geram desemprego e desesperança. Esse é um ciclo vicioso que precisa ser rompido, pois aprisiona o Rio Grande do Sul em um estado de torpor permanente.