Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
Muitos perguntam por que o dólar dispara a cada pesquisa eleitoral, já que os candidatos à frente são tão diferentes. Certamente é porque ambos têm algo em comum. Os mercados especulativos, mais do que as ideias em abstrato, ponderam: (a) a previsibilidade; e (b) a capacidade de execução. Em síntese: aversão ao risco.
No primeiro quesito, Bolsonaro impacta porque nunca exerceu cargo no Executivo, nem mesmo de prefeito. Parlamentares podem ter arroubos de retórica, mas de dirigentes exigem-se capacidade de fazer e experiência, o que não se adquire da noite para o dia. Como seria ele “na prática”? Aos especuladores, pouco importa a opinião sobre aborto, LGBT ou armas: querem saber de seu portfólio, ou seja, de economia. O candidato, aí, majora a imprevisibilidade: como postular a Presidência, em crise como a atual, e declarar que nada entende de economia? Isso é interpretado menos como ignorância e mais como forma de fugir das perguntas, as quais terceiriza a assessores. Mas estes são cargos de confiança e podem ser dispensados na primeira crise: elege-se o presidente e não, ministros. Nesse aspecto, Meirelles é o sonho de consumo do “mercado”.
Já com Lula, o motivo maior passa pela cena de realismo fantástico de “nuestra Latinoamérica”: como pode um candidato condenado e preso liderar as pesquisas? A dúvida não é mais se ele irá à disputa, mas com o destino de seus votos, o que deixa em aberto o resultado da eleição: incerteza intolerável aos especuladores, pois falta um mês. No caso de Fernando Haddad ser o aquinhoado, a imprevisibilidade é menos com sua pessoa — já foi prefeito de São Paulo, tido como moderado e “o mais tucano dos petistas” — e mais com o programa. Tradicionalmente, o PT o sintetiza como “crescimento com distribuição de renda”, mas, hoje, diferentemente de 2003, as condições objetivas para sua execução são adversas: ao contrário, a pressão é por reformas difíceis e impopulares.
Por fim, algo que envolve os dois e os demais candidatos: seja quem for o vencedor, terá minoria no Congresso. Aí, é a certeza que assusta, pois quem teria tal capacidade de negociação? Depois de Dilma, jogo de cintura é valorizado. Sem ninguém com pinta de estadista, o dólar, como muitos brasileiros, prefere países mais tranquilos.