Por Ricardo Hingel, economista
Insisti, nos últimos artigos, com a afirmação de que o histórico baixo crescimento da economia brasileira decorre em muito da baixa taxa de investimento, que se distancia muito da média mundial e de qualquer economia com quem queiramos nos comparar.
Embora persistamos como um país com grandes potenciais, há um conjunto de questões que trava quem pretende empreender, e que são timidamente enfrentadas, como a falta de continuidade da política econômica das últimas décadas, a insegurança jurídica, a instabilidade de regras, a imprevisibilidade dos cenários de curto prazo, e mais ainda dos de longo prazo, o custo Brasil e a elevada carga tributária.
Embora sejamos uma democracia consolidada, temos um quadro institucional confuso, na medida em que nosso regime presidencialista tem vieses de parlamentarismo, pois grande parte das ações do Executivo dependem do Legislativo e somos ainda impactados por um Judiciário que acaba legislando através de interpretações de leis não claras ou mesmo preenchendo vácuos legais.
No país da dominância política, onde tudo se espera pelo que farão nossos governantes, a cena pré-eleitoral colocou matizes ainda mais fortes nas incertezas do presente, onde está muito difícil a visualização de um quadro econômico racional e entregável por parte da maioria dos principais candidatos, que insistem em oferecer omeletes sem quebrar os ovos. Recuperação econômica tímida, assim como do emprego, dólar em alta, déficit fiscal sem solução e ameaças de populismo embutem riscos que tendem a emperrar uma melhoria sustentável para o crescimento do país.
Estamos ainda muito distantes de oferecer um ambiente de negócios amigável e confiável para quem queira investir no Brasil; a clareza do que virá pela a frente é que vai definir o ritmo da recuperação econômica. Permaneçamos atentos e cobrando.
PS: estava em férias quando recebi a notícia do falecimento do amigo Cezar Busatto e não poderia deixar de fazer algumas referências a ele. Desde os anos 1990, por diversas oportunidades, primei pelo contato com ele nos diversos cargos que ocupamos, quando tive a oportunidade de conhecê-lo e admirá-lo; era uma pessoa com uma enorme honestidade intelectual e de propósitos e empregava grande intensidade na defesa do que acreditava. Sanguíneo, com posições firmes, não fugia da boa polêmica na defesa do que acreditava, em especial com uma visão social que entendia que o público devia estar a serviço da sociedade, e não de interesses privados. Foi embora muito cedo e vai fazer muita falta. Grande abraço, Cezar!