Por Ricardo Hingel, economista
Há quase três anos, escrevi meu primeiro artigo nesta coluna denominado “O nó do investimento”, no qual colocava na raiz do histórico baixo crescimento econômico brasileiro nossa reduzida taxa de investimento em relação ao PIB. Na ocasião, utilizei Estudo do FMI que mostrava que entre 1994 e 2012, na América Latina e Caribe, ficávamos em 23º lugar entre 32 países neste quesito, com uma taxa inferior a 18%.
Atualizando os dados, com a mesma fonte, tomando-se o período 1999 a 2018 (estimado), constato que pioramos. Nestes 20 anos, o mundo cresce 3,8% anuais, com uma taxa de investimento médio de 24,5%, com um nível de poupança semelhante.
No mesmo período, a economia da América Latina e Caribe cresce 2,5% anuais, com uma taxa de investimento de 20,7%, enquanto que, no Brasil, a média é de 18,7% do PIB, com a economia expandindo 2,4% anuais. Entre 2008 e 2014, conseguimos investir acima de 20%, porém, no quadriênio 2015/18, a média anual despenca, para ficar pouco acima de 16%, refletindo a grave recessão iniciada em 2014. Nossa taxa de investimento é um problema estrutural e que ajuda a nos caracterizar como o país do futuro que nunca chega. Não haverá crescimento acelerado e sustentável sem relevantes inversões de capital, e a economia continuará oscilando.
Esta reflexão é importante, agora, devido à gravidade da situação econômica e em especial das desequilibradas contas públicas, onde se preveem continuados déficits para os próximos anos, com o direcionamento do orçamento à cobertura da Previdência, mais a dívida crescente, que indicam que o incremento do investimento não virá do lado público. O país não gerará recursos suficientes para financiar o investimento, sendo que a taxa de poupança, já baixa, deve fechar 2018 em 14,5% do PIB. Regulação, segurança jurídica e credibilidade no crescimento do Brasil são chaves para inversões de capital, em especial com fontes externas.
A retomada econômica de longo prazo deverá vir do investimento e não do consumo doméstico, em especial pelos atuais altos níveis de desemprego e a perda de renda das famílias, cujo consumo representa mais de 60% de nosso PIB.
Com esta absoluta carência de recursos, em especial para infraestrutura, fundamental para o funcionamento da matriz produtiva, insisto que devem ser criadas condições para que os investidores privados, locais e estrangeiros, atuem nestas áreas deficientes e que consagraram o histórico Custo Brasil como fator de desestímulo à competitividade nacional, comprometendo o crescimento. Concessões e Parcerias Público-Privadas não podem sair da pauta.