Por Ricardo Hingel, economista
Após a longa recessão que o país passou até 2017, com a destruição e o enfraquecimento de milhares de empresas e a perda de milhões de empregos, a introdução de um conjunto de medidas na área econômica, efetivadas com o início do governo Temer pela nova equipe econômica, visando reequilibrar nossa economia, obteve alguns sucessos. A inflação e as taxas de juros caíram, a reforma trabalhista foi aprovada e a criação do teto de gastos mirou a volta do equilíbrio fiscal.
Ficou pelo meio do caminho a reforma da Previdência, o que compromete o equilíbrio fiscal futuro e que se transformou, agora, em uma mera miragem. O equilíbrio fiscal, que significa basicamente fazer com que se gaste menos do que se arrecada, vai comprometer o crescimento para os próximos anos. Se no início do ano o mercado previa uma recuperação da economia, com crescimento do PIB em 2018 superior a 3%, a denominada dominância política mais uma vez se sobrepôs à pauta econômica e gerou um desalento quanto à recuperação das empresas e dos empregos e as expectativas de crescimento foram gradativamente sendo reduzidas, chegando-se agora a uma previsão próxima de 1% para o ano.
Vários fatores estão influenciando nesse pessimismo e todos têm raízes políticas. Ficou clara a incapacidade do atual governo em conduzir as medidas necessárias para completar uma agenda de reformas que definitivamente colocassem o país numa trajetória virtuosa. Mas, o que avançou, em especial inflação e taxas de juros, não produziu uma melhoria na sensação de bem-estar da população. A economia continua sem reagir, o desemprego permanece alto, prevê-se elevação das taxas de juros para os próximos anos, o dólar disparou e a bolsa despencou. Não esqueçamos, também, da greve dos caminhoneiros, que trouxe repercussões desastrosas para a atividade econômica e seus efeitos ainda persistirão. Desalento é a palavra que resume bem nosso atual momento.
Além da incapacidade do atual governo em recuperar a economia, podemos dizer que o mercado vê imprevisibilidade nas próximas eleições presidenciais e em seus principais candidatos e, por incertezas e riscos, precifica elevada probabilidade de um relaxamento fiscal (leia-se aumento de gastos), o que tenderia a aumentar o déficit e a dívida pública, tornando o futuro ainda mais nebuloso.
Infelizmente, 2018 foi transformado em um ano perdido, pois certezas positivas ou negativas somente serão clareadas após a definição das eleições presidenciais e, talvez, então, se enxergue alguma retomada e a roda volte a girar. Enquanto isso, a economia permanece lenta e esperando por dias melhores. Deu mandraque!