A Copa do Mundo é uma oportunidade de aproximação entre países com disposição para exibir o melhor no futebol, que costuma, por isso, magnetizar as atenções durante um mês, deixando tudo o que não esteja relacionado diretamente ao esporte num plano menor. O período se presta de fato para celebrações, mas os cidadãos precisam ficar atentos. Um momento de tanto significado não pode ser aproveitado como cortina de fumaça para a tomada de decisões impopulares, nem para o recrudescimento de práticas antiéticas e, muito menos, para paralisia de iniciativas que não têm mais como esperar para serem postas em prática.
O Brasil, particularmente, tem razões de sobra para ficar de olho no Mundial e, ao mesmo tempo, numa ampla pauta de ações sem condições de serem descontinuadas. Num período crítico sob o ponto de vista político e econômico, o país está às voltas com uma campanha eleitoral atípica. Isso porque os candidatos presidenciais com mais chances de vitória ainda hesitam em definir alternativas claras contra uma crise nas dimensões enfrentadas hoje, que exigem coragem e não têm como se mostrar amenas.
O Congresso, particularmente, não pode simplesmente cruzar os braços neste período delicado para as contas públicas. Se a situação já era difícil, ficou mais ainda a partir dos últimos dias. A greve dos caminhoneiros expôs deficiências sérias na área de logística, extremamente dependente de rodovias, e vulnerabilidades no abastecimento. A elevação das taxas de juros nos Estados Unidos voltou a atrair investidores para o mercado norte-americano. Em consequência, o Banco Central tem sido forçado a gastar mais do que imaginava inicialmente para tentar segurar o câmbio e demonstrar que o Brasil ainda tem como voltar a operar com as contas em equilíbrio.
Diante desse cenário já inquietante, é preciso reforçar as preocupações com a questão fiscal. O recente alerta do Tribunal de Contas da União (TCU) não pode ser ignorado. Sem mudanças estruturais, será difícil o país cumprir o teto de gastos, o que reforça a necessidade de atenção especial por parte do Congresso a prioridades como a reforma da Previdência. O poder público não tem como ficar inerte diante de uma situação em que ou atende aos pressupostos do rigor fiscal ou às demandas da sociedade, o que só vai ser evitado com uma perspectiva de equilíbrio na contabilidade do governo.