Por Ricardo Hingel, economista
A Dívida Pública Federal (DPF) encerrou o ano de 2017 em R$ 3,5 trilhões, atingindo em maio último R$ 3,7 trilhões, e se prevendo fechar o ano próximo de R$ 3,9 trilhões. É difícil para qualquer um de nós imaginar o que significa um trilhão de reais.
Esta dívida representou, ao final de 2017, algo como 74% do PIB brasileiro, sendo que, em 2003, era 51% do PIB. Para o pagamento de qualquer dívida, se faz sobrar recursos ou ela só aumentará. O recente desastre econômico brasileiro passa pela explosão de nossa dívida. Os déficits fiscais projetados para os próximos anos desalentam a quem tenta ver um ciclo virtuoso de crescimento. O desastre nas contas públicas nacionais só não é maior por uma razão muito simples: a União entende que não precisa pagá-la, pois apenas vai a mercado e a refinancia, ao preço que for necessário, e anestesia a gravidade da situação. Joga-a para cima e quem pegar é sua, ou seja, as próximas gerações.
A irresponsabilidade com que as contas públicas federais vêm sendo geridas explicam um quadro quase sem retorno para a economia brasileira; as recentes decisões do Congresso Nacional aprovaram, entre aumento de gastos e renúncias de receitas, algo como R$ 100 bilhões, agravando ainda mais o déficit fiscal estimado, entre 2018 e 2021, de R$ 478 bilhões.
O déficit fiscal e a dívida pública exigirão responsabilidade e pragmatismo do próximo presidente a ser eleito, independentemente da linha ideológica ou política econômica em que acreditar, ou o país poderá voltar a uma crise econômica similar à da recente recessão. Dos atuais candidatos, só ouvidos moucos. Há uma bomba a ser desarmada. Infelizmente, a sociedade brasileira e seus principais atores parecem não compreender a relação direta entre o descontrole dos gastos públicos com o desastre econômico dos últimos anos, pois este precedeu o desastre.
A forma honesta ao encarar a reforma da Previdência será a pedra de toque para o próximo presidente. Apenas para lembrar, o financiamento de nossa Previdência se dá com a contribuição de trabalhadores ativos para o pagamento dos aposentados. Segundo o IBGE, em 2015, oito pessoas trabalhavam para cada pessoa com idade superior a 65 anos; em 2040, serão apenas quatro. Esta conta precisa fechar.
Frente ao flagrante desequilíbrio das contas federais para os próximos anos e à necessidade de apagar este incêndio, dificilmente o próximo governante escapará da tentação de subir mais uma vez os impostos, talvez com a volta da CPMF. O quadro fiscal previsto já move o mercado, que está prevendo elevação de juros, o que mais uma vez frustrará a recuperação econômica e a melhoria do emprego.
Faça-se a luz!