O Rio Grande do Sul perdeu na madrugada desta segunda-feira (13) um homem apaixonado pela política. O economista Cezar Augusto Busatto morreu aos 66 anos, no Hospital Moinhos de Vento, depois de uma longa batalha contra o câncer.
Diagnosticado em 2005, quando ainda era secretário de Governança de Porto Alegre, não se deixou abater. Fez a cirurgia, submeteu-se ao tratamento, mudou hábitos e driblou a doença fazendo política.
Vindo do MR-8, Busatto tornou-se conhecido a partir de 1995, quando, eleito deputado estadual pelo PMDB, licenciou-se para ocupar a Secretaria da Fazenda na gestão de Antônio Britto. Integrava o núcleo duro do governo em um período marcado pela quebra de paradigmas e de dogmas caros à esquerda.
Esteve diretamente envolvido na privatização e extinção de estatais e na busca de investimentos que resultou na atração de empresas como a General Motors, instalada em Gravataí, e da Ford, que acabaria trocando Guaíba por Camaçari, na Bahia, no governo de Olívio Dutra.
Quando Britto perdeu a eleição de 1998 para Olívio, Busatto era um dos mais inconformados. Chorando, dizia que o projeto de modernização do Estado seria interrompido.
No final de dezembro, às vésperas de deixar do cargo, vaticinou que Olívio não pagaria os servidores públicos a partir de fevereiro ou, no máximo, março. A profecia não se confirmou. Deputado estadual reeleito, fez oposição sem trégua ao governo petista, principalmente depois de a Ford anunciar que estava deixando o Estado porque Olívio não concordava com os benefícios concedidos no governo Britto.
Sua tentativa de conquistar a prefeitura de Porto Alegre, em 2000, foi um fracasso. Não conseguiu sequer chegar ao segundo turno.
Fiel a Britto, deixou o PMDB e foi com ele, José Fogaça, Paulo Odone e Berfran Rosado para o PPS, aventura da qual não guardaria saudade. Por essa época, começou a perder o entusiasmo com a atividade legislativa. Depois de três mandatos de deputado, dizia que tinha nascido para fazer as coisas e identificava no município a única forma de mudar a vida das pessoas.
Com eleição de José Fogaça para a prefeitura de Porto Alegre, em 2004, virou secretário de Coordenação Política e Governança Local, cargo que ocuparia até ser convidado para assumir a Casa Civil no governo de Yeda Crusius, em fevereiro de 2008. Foi uma passagem breve e tumultuada.
Em junho daquele ano, caiu depois de ser gravado pelo então vice-governador, Paulo Feijó, no que se poderia chamar de "sincericídio": admitiu que havia corrupção em órgãos públicos, como Daer, Detran e Banrisul, usados como fonte de financiamento das campanhas de partidos aliados.
O episódio o abalou profundamente e Busatto resolveu sair do país para estudar. Foi para os Estados Unidos a convite da Universidade de Stanford, participar do programa de pesquisa no Centro de Democracia Deliberativa. Inscreveu-se como voluntário na campanha de Barack Obama e apaixonou-se pelo modelo de contribuição focado na pessoa física. Na volta, escreveu um livro sobre a experiência.
Marcado pelo episódio da saída da Casa Civil, decidiu que não concorreria mais a cargos eletivos. Aposentado como auditor fiscal da Secretaria da Fazenda, não precisava de emprego, mas ficou seduzido por um convite do então prefeito de Canoas, Jairo Jorge, à época no PT, para ser seu secretário.
A reação no PT foi tão forte que até o então ministro da Justiça, Tarso Genro, mentor de Jairo Jorge, entrou em cena para pedir que abortasse aquela ideia. Jairo não precisou desfazer o convite: Busatto se antecipou e disse que não poderia aceitá-lo.
Eleito prefeito de Santa Maria em 2008, seu velho amigo Cezar Schirmer chamou Busatto para ser secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Projetos Estratégicos, em maio de 2009. Como a ideia era de um período temporário, Busatto e a mulher, Miriam Linera, ficaram morando na casa de Schirmer.
Em abril de 2010, voltou à Secretaria de Governança de Porto Alegre, convidado por José Fogaça. Continuou com o então prefeito e se licenciou para tratamento de saúde em 2014, quando o câncer voltou.
— Foi realmente em 2014 que ele me procurou com o resultado do exame que apresentava a metástase. Me lembro da nossa reunião em meu gabinete quando ele chorou muito — lembra José Fortunati, vice-prefeito à época.
Retornou à prefeitura em 2015, dedicado ao projeto Porto Alegre Resiliente, uma de suas últimas paixões. Resiliência ele demonstrou na prática que tinha de sobra. O ex-prefeito Fortunati conta que, mesmo fora do Executivo, seguiu ajudando no projeto porque precisava se ocupar.
Apesar do tratamento e das dores intensas, continuou promovendo discussões políticas em pequenos grupos, convencido da falência dos partidos e da necessidade de participação do cidadão nas decisões.
Nos últimos anos, debilitado pela doença, apelou para tratamentos espirituais e teve o que considerava uma sobrevida. Busatto teve duas alegrias em seus últimos anos de vida: o nascimento dos netos Luca, filho do juiz do trabalho Carlos Ernesto, e Bernardo, filho do secretário municipal da Fazenda, Leonardo Busatto. Carlos e Leonardo são gêmeos, filhos do primeiro casamento de Busatto com a ex-vereadora Clênia Maranhão.
Com o apoio da atual mulher, Miriam, e dos filhos, Busatto escreveu um livro de memórias que só não foi lançado ainda porque seu estado de saúde se agravou de julho para cá. O livro é a síntese da vida de um sonhador que fazia política com paixão.