Por Ricardo Felizzola, CEO do Grupo PARIT S/A
É notória a preocupação dos brasileiros com eleições. O debate da semana bateu recordes de audiência e foi como aquela partida de futebol sem oportunidades de gol e que termina 0x0. Os candidatos mostraram-se como são: com muita falta de capacidade, de competência e de soluções convincentes. Além da limitação dos candidatos, há o agravante do fato de que nossa democracia está longe de ser um verdadeiro sistema representativo.
A grande distorção está na forma em que, a partir da Constituição de 1988, o sistema político foi se isolando da sociedade e passando a ser algo com vida própria, como se fosse o computador do filme de ficção que foge do controle e passa a executar ações voluntárias, desconectando-se da vontade de seus criadores. Partidos políticos multiplicam-se e têm objetivos próprios, com interesses exclusivos de extrair do Poder benesses para seus colaboradores.
Esse processo, durante as eleições, sempre precisou ser alimentado com o dinheiro e cresceu valorizando, principalmente, as casas legislativas da nação, pois é lá que circulam influências e onde se consolida a sustentação da máquina e seus mecanismos. Tudo paulatinamente construído em 30 anos usando muita propina. Para sorte do Brasil, a Lava-Jato começou a revelar e desmanchar esses mecanismos com muita lentidão e terrível esforço.
A imunidade parlamentar, uma pérola da nossa Constituição, e uma Justiça que mais arquiva do que julga facilitam o ambiente para a sobrevivência do que aí está. A nova lei que permite verba pública para as campanhas, que veio para compensar a temporária escassez de outros recursos (leia-se muita propina) promovida pela Lava-Jato, é o último mel do favo democrático criado por políticos para políticos. Com dinheiro, entram em campo os cabos eleitorais comprando descaradamente os votos para eleger legislativos. Com isso, o índice de renovação vai ser ridículo e o parlamentarismo de ocasião vai continuar com os mesmos personagens.
Daí a importância de estarmos conscientes de que a verdadeira eleição se dá ali, no Legislativo, e um futuro presidente ou governador vai ter de se submeter ao interesse das câmaras. Enquanto não houver uma mudança estrutural, uma verdadeira reforma política, que acabe com os atuais mecanismos, as eleições estarão longe de trazer verdadeiras mudanças ou soluções para os problemas do país.