Por Humberto Laudares, Ph.D em Economia pelo Graduate Institute da Universidade de Genebra. É cofundador do movimento Agora! e do Renova BR
A gestão pública, como entendemos e praticamos, ainda é da "era Ford", enquanto boa parte da sociedade está na "era Google", usando Smartphone. Quando vamos digitalizar a gestão pública para facilitar e baratear a vida das pessoas?
O Google acabou de lançar a assistente virtual. Na prática funciona como se você falasse com uma pessoa (virtual) que irá agendar reuniões, fazer buscas na internet, comprar leite e transferir dinheiro. Isso é inteligência artificial.
Desafio você a entrar no gabinete de uma alta autoridade pública. Verá que há duas ou três assistentes trabalhando integralmente.
A gestão digital olha para a tecnologia e a abraça para melhorar sua eficiência e servir melhor aos cidadãos. O gestor público deve, também, atentar para os efeitos colaterais que o uso de tecnologia causa no mercado de trabalho e buscar soluções para minimizá-los.
O blockchain ficou famoso pelo boom das criptomoedas, mas seu potencial transformador na gestão pública é imenso. Ele funciona como uma coleção de "blocos", de comprovantes, que são ligados e garantidos por criptografia. Os dados de cada transação são imutáveis e, portanto, auditáveis.
Quer exemplos da boa aplicação desses "blocos"? Se fossem receitas médicas, poderiam ser usados para o SUS, conectando os serviços prestados com os custos e a evolução do paciente. Se essa tecnologia fosse aplicada no pagamento de impostos, haveria a necessidade de ter tantos auditores fiscais?
São inúmeras as possibilidades de como a tecnologia pode aumentar a eficiência e a transparência da gestão pública. Há uma demanda latente por mais tecnologia na prestação de serviços públicos hoje, a exemplo do uso de aplicativos. Mas os exemplos aqui apresentados, dentre outros, podem causar transformações profundas na organização do setor público.
O debate sobre a gestão pública da "era Google" está inserido no contexto do tipo de Estado que queremos como sociedade. Enquanto os brasileiros convivem com problemas primários na gestão pública, a esquerda tradicional insiste em uma agenda corporativista e a direita luta por menos Estado sem falar como e o que viria no lugar.
Atualizar a agenda de reformas na gestão pública é prioridade, mas vale lembrar que a política precede a tecnologia.
E aí? Vamos digitalizar a gestão pública? E a política?