Em 2013, milhares de manifestantes invadiram a cobertura do Congresso Nacional. Suas reivindicações eram múltiplas. Lá de dentro, surgiu o senador gaúcho Paulo Paim. Disposto a dialogar, perguntava, em voz alta: "Onde estão os líderes?". Não havia líderes, pelo menos não na forma com a qual a política tradicional estava acostumada a lidar. Fenômeno da internet.
Nunca houve uma distância tão grande entre a lógica de funcionamento da gestão pública e a da vida cotidiana. Enquanto famílias assumem novos arranjos e empresas se horizontalizam, suprimindo níveis hierárquicos, o Estado segue inchado, sem conseguir acompanhar as ondas de transformação.
Apesar de algumas iniciativas bem-sucedidas no Rio Grande do Sul – como é o caso da queda no tempo de emissão de licenças ambientais –, a burocracia continua sendo um entrave. Com boas universidades e uma veia empreendedora forte, vontade para espantar o marasmo não falta.
Um grupo de empresários gaúchos está criando um instituto voltado à inovação, que ainda não tem nome mas tem sede: Porto Alegre.
A ideia é montar um espaço para encontrar soluções a partir da tecnologia: para os empreendedores e para a cidade. O ambiente vai abrigar startups e laboratórios e conectar donos de boas ideias com investidores. Mas o tempo não será dedicado apenas para negócios.
Entre as propostas está a organização de "hackathons", maratonas em que programadores e integrantes de startups entram madrugada adentro em busca de saídas tecnológicas para problemas locais.
Como disponibilizar internet pública em toda a cidade? Um desafio como esse é lançado e os times trabalham juntos até encontrar a solução ideal. O melhor do modelo adotado na iniciativa privada aplicado para resolver problemas do setor público:
– Seria uma espécie de contrapartida cidadã aos serviços do instituto. A ideia é que não basta apenas reter profissionais qualificados. É preciso atrair talentos para cá – explica o empresário Marciano Testa, um dos idealizadores do projeto.
No índice de cidades empreendedoras elaborado pela Endeavor, a capital gaúcha aparece nas últimas posições em dois setores-chave: abertura de empresas e regularização de imóveis. Enquanto isso, em cidades como Fortaleza, no Ceará, a liberação para empreendimentos já é feita pela internet.
– As inovações são tão disruptivas para o setor público quanto foram para o privado. Não seria benéfico se as pessoas cujos empregos no setor privado forem tomados pelos robôs fossem procurar asilo no setor público. Isso seria muito caro e ineficiente – afirma Doug Warner, vice-presidente da Hewlett-Packard (HP), que esteve em Porto Alegre no início de maio.