Quando ouvimos bossa nova, por vezes temos a impressão de que aquela era a única música brasileira na época. Quando ouvimos relatos de nossos antepassados sobre a boa educação que receberam em escolas públicas, julgamos que a qualidade caiu. O fato é que, na época da bossa nova e da MPB, pobre não tinha acesso a música. E a educação básica estava longe de ser para todos.
Não é que fosse melhor, mas, sim, elitista.
Nascido no ano da nossa última constituinte, sempre ouvi gente falando: tem que metralhar os pobres, restaurar a pena de morte, estuprar os gays na mesma camisa de força dos maconheiros. Entretanto, nas eleições da minha juventude, todo candidato era supostamente social-democrata.
A raiva conservadora não tinha válvula de escape no debate presidencial. Restava àquelas elites que queriam sangue aparelhar discretamente os partidos e os governos ditos social-democratas. Assim, ruiu a esquerda brasileira, junto com outras ideias que sequer chegamos a experimentar de verdade, como o gerencialismo (hoje representado pelo Partido Novo).
Precisamos entender que Bolsonaro presidente é o equivalente político à música sertaneja no topo das paradas. Produto do acesso de gente menos erudita à política.
Em 2018, teremos candidatura do neopentecostalismo, dos militares, da milícia, de facção. Vai ter muita reflexão sobre os limites disso tudo. Se Bolsonaro ganhar, a sociedade civil brasileira vai se reerguer contra um inimigo claro, como está acontecendo com Trump nos EUA. A um alto custo humanitário, vai nascer da cinza, mais tarde, um novo sistema político, mais democrático do que o atual.