Tanto o governo federal quanto o estadual mostram-se incapazes de aprovar projetos que consideram prioritários, embora até há pouco exibissem maioria nos respectivos legislativos. A possibilidade de reeleição de presidente e governador ajuda a explicar o fato. Em tese, esta é plenamente admissível (se alguém está dando certo, por que não permanecer no cargo?). Na realidade brasileira, a coisa não é bem assim.
A interação entre economia e política sugere que há países, como vários da Europa Ocidental no século 20, em que predominam ciclos políticos ideológicos: um bloco partidário mais à esquerda, trabalhista ou socialista, que em matéria de economia prioriza o crescimento da demanda e do emprego, e que faz rodízio no poder com um mais à direita, cujo foco é a austeridade e o combate à inflação. No Brasil, talvez pela fragmentação partidária e pela inexperiência democrática, predomina o ciclo político chamado de oportunista: a despeito da ideologia, os governantes tendem a priorizar a austeridade nos primeiros anos de mandato, "arrumam a casa" para poderem afrouxar os cintos ao final e tentar permanecer no poder.
Quem já não viu este filme? O mesmo governo apresenta duas caras, dependendo do período do mandato: o pragmatismo sobrepõe-se à ideologia. Se é assim, a reeleição complica mais o quadro, pois, mais que partidarizar, pessoaliza as decisões econômicas. Não só a oposição, mas pré-candidatos do mesmo espectro político do governo passam a rejeitar medidas que possam favorecê-lo eleitoralmente. Sem entrar no mérito dos projetos, é visível as dificuldades que o governo federal enfrenta no Congresso desde que se passou a cogitar Temer e Meirelles como candidatos, e aqui nos pampas não é muito diferente.
A teoria econômica sugere que em países onde predomina o ciclo oportunista a reeleição pode não ser a regra do jogo mais adequada, e principalmente nas crises, em que a fase do pacote de bondades do ano eleitoral fica inviabilizada pela própria restrição orçamentária. Por isso, copiar experiências alheias nem sempre dá certo, pois a cultura e as instituições locais importam, e quem governa visando à própria reeleição tende a não fazer bom governo. Em tempos em que se discutem mudanças nas regras eleitorais, essa deve ser incorporada ao debate.