Não bastasse a popularidade – na margem de erro, folclórico 0% –, o governo federal encontra resistência na própria casa: da área econômica. O compromisso de um teto de déficit de R$ 159 bilhões mostra-se inviável diante de tantos gastos que partem do próprio governo. O custo da base aliada, depois de salvar a cúpula de dois julgamentos e apoiar medidas impopulares, ultrapassou a razoabilidade. Nada se aprova no Congresso sem o toma lá da cá, mas não há mais o que dar.
Tudo isso repercute aqui no Estado e em parte explica a dificuldade para o acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional (STF). O que resta a ser remanejado do orçamento federal é pouco mais de R$ 100 bilhões, ou seja, nada, diante dos compromissos. Entramos no ano eleitoral e a impopularidade mostra seu custo: os articuladores políticos pedem "pacote de bondades".
Não há a mínima possibilidade de repassar aos Estados as compensações das perdas pela lei Kandir, acumuladas já há 20 anos. Seria um compromisso de cerca de R$ 40 bilhões anuais e os técnicos não querem assumir algo que cairá sobre eles mesmos, pois não terminarão seus mandatos em 2018. Já por aqui também há economistas competentes na área fazendária e na Junta de Coordenação Financeira, mas o andar de cima não ajuda. Está longe de ter a força política do Rio de Janeiro, que em situação mais grave chegou a um acordo benéfico. Optou por medidas como extinção de fundações, que pouco afetam os gastos: um custo político sem benefício financeiro, e não por falta de aviso. Até hoje, a pergunta de quanto se pouparia com isso ficou sem resposta. A secretaria, ao contrário dos deputados estaduais que aprovaram, não se deixa influenciar por medidas simbólicas ou midiáticas: precisa fechar o orçamento. Factoides não geram caixa.
E assim, tal como o Tartuffe de Molière, a série de trapalhadas leva a um desfecho que descortina quem é quem. Aqui, porque não consegue articular alternativas viáveis para a crise financeira. Em Brasília, por explicitar a contradição de um governo que, ao assumir de forma oblíqua, com respaldo congressual e compromisso de austeridade como último sustentáculo para se legitimar, acaba fazendo exatamente o contrário e acaba refém da própria base. Não se precisa de protestos de rua nem panelas, o problema vem de dentro.