Após o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovar na segunda-feira (27) o processo de venda de ações do Banrisul, o mercado fica à espera da publicação do fato relevante, que deve trazer detalhes sobre o andamento do processo. Em Brasília, nesta terça-feira (28), o vice-governador José Paulo Cairoli disse à Agência Brasil que a conclusão da operação deve ocorrer até 14 de dezembro, mas depois recuou. GaúchaZH confirmou a data com uma fonte próxima ao governador José Ivo Sartori. O expectativa é contar com os recursos para o pagamento do 13º salário dos servidores.
O aval do órgão que formula as políticas do sistema financeiro brasileiro para a venda dos papéis a estrangeiros, etapa apenas formal, não ajudou nesta terça o banco na bolsa. Os papéis mais negociados do Banrisul fecharam com queda de 3,9%, a R$ 14,20. O governo Sartori prevê vender 49% das ações ordinárias (com direito a voto), mantendo o controle sobre o banco, e os 14,2% das preferenciais que ainda detém.
Apesar da maior parte das ações ofertadas serem ordinárias, são papéis sem liquidez. Com isso, é consenso que a base será o preço das preferenciais, mais negociadas.
O Piratini chegou a cogitar a possibilidade de arrecadar R$ 3 bilhões com a operação, mas, se for levado em consideração o fechamento desta terça-feira, seria apenas R$ 1,81 bilhão. Isso sem considerar que, em ofertas semelhantes nos últimos meses – casos de empresas com Rumo, Azul e Magazine Luiza –, o preço fixado foi inferior aos observados na bolsa.
– A tendência é de o preço ficar um pouco abaixo do mercado, até para os investidores aderirem – observa o analista-chefe da Geral Investimentos, Carlos Müller, lembrando ainda que, como não é o controle do Banrisul que está em jogo, não há razão para pagar mais.
O analista de investimentos Luiz Henrique Wickert, da corretora Solidus, avalia que, sob a métrica de preço em relação ao valor patrimonial, o Banrisul está barato na comparação com os bancos privados, mas, como o Piratini descarta privatização, não vê motivo para maior valorização.
– Quando o comprador de qualquer bem sabe que o vendedor está desesperado, precisando de dinheiro, como é o caso do Estado, o lado comprador é quem tem o poder de barganha – observa.
O mérito da operação para o Estado divide os especialistas. Para Müller, apesar de os recursos arrecadados não fazerem diferença no desequilíbrio crônico das finanças do Rio Grande do Sul, pelo menos deve ajudar o Piratini a aderir ao regime de recuperação fiscal da União. Assim, poderia ter efeitos positivos a longo prazo, avalia Müller. Wickert vê de outra forma. Apesar de ressaltar que é preciso esperar o desfecho da operação, considera que, por enquanto, o Estado parece estar queimando dinheiro. Mesmo assim, não há sinalização de que a venda de ações possa ser abortada.
Após o fato relevante, será feito um road show com a apresentação do negócio aos possíveis interessados. Era esperado que começasse ainda em novembro, com encontros em Londres e Nova York.