De poucas palavras e olhar firme, o presidente Daniel Noboa, 36 anos, chegou ao poder no Equador em novembro do ano passado como um dos dirigentes mais jovens do mundo, com o compromisso de redobrar suas apostas para enfrentar um tráfico de drogas encorajado.
— Este governo está tomando as ações necessárias que, nos últimos anos, ninguém quis tomar. E para isso é preciso coragem de verdade, não uma coragem de papelão — disse Noboa nesta quarta-feira (10), durante entrevista para a Rádio Canela.
Desde o domingo (7), Noboa encara sua primeira crise, depois que grupos de criminosos e narcotraficantes responderam com fogo a suas advertências de subjugá-los: motins carcerários, retenção de mais de cem membros da força pública pelos presos, fuga da prisão de dois chefões do crime, ataques a jornalistas, explosões e um rastro de sangue que deixa pelo menos 10 mortos.
Filho de um magnata da produção de banana, nascido nos Estados Unidos e formado em universidades estrangeiras de prestígio, o novo presidente se define de centro-esquerda, embora seja apoiado por forças de direita.
Bastante ativo no Instagram, Noboa é "sommelier", entende de música, tentou ser vegetariano, coleciona pimentas e é apaixonado por carros e cavalos, de acordo com sua equipe de imprensa.
Jovem e milionário
De aparência atlética e jovial, Noboa evita o espetáculo nos palanques, coletivas de imprensa e entrevistas, mas distribui abraços e selfies em sua passagem.
Durante a campanha, obteve apoio apresentando discurso de pulso firme contra o narcotráfico, depois do assassinato a tiros do presidenciável Fernando Villavicencio. Dias depois, denunciou ameaças.
— Talvez me matem também — disse Noboa na época, em entrevista à AFP.
Filho de Álvaro Noboa, um dos homens mais ricos do Equador, o presidente é herdeiro de sua fortuna e capital político.
Noboa estudou administração de empresas na Universidade de Nova York e administração pública na Harvard Kennedy School. Também tem pós-graduação em Governança e Comunicação Política na Universidade George Washington.
Do litoral sudoeste do país, é casado com Lavinia Valbonesi, uma "influencer" em temas de nutrição, com quem tem um filho de dois anos e espera outro. De seu primeiro casamento, tem uma filha de quatro anos.
Aos 18 anos, Noboa criou sua primeira empresa dedicada à produção de eventos. Depois, vinculou-se à Corporação Noboa, a grande empresa familiar, como diretor das áreas comercial e de transporte naval.
Promessa de campanha
O atual chefe de Estado rompeu a sequência de derrotas de seu pai, que concorreu cinco vezes à Presidência e tentou vencer o ex-mandatário socialista Rafael Correa (2007-2017), sem sucesso. Seu triunfo foi um revés para o condenado e exilado ex-presidente Correa, padrinho político de Luisa González, sua rival no segundo turno.
O novo presidente se comprometeu a deter o derramamento de sangue no país, que teve 2023 como seu ano mais violento, com cerca de 7,8 mil homicídios e uma taxa de assassinatos superior a 40 para cada 100 mil habitantes.
— Esta onda de violência não é um acidente, estávamos começando a aplicar nosso plano de segurança, que consistia na segurança de portos e fronteiras, na segmentação das prisões, na transferência dos líderes das prisões para áreas isoladas de segurança máxima, na retomada do controle, no monitoramento com radares e drones para combater o narcotráfico e o terrorismo — garantiu Noboa.
"Estado de guerra"
Noboa governará por 18 meses, até completar o mandato de quatro anos de seu antecessor Guillermo Lasso. Em maio de 2023, Lasso dissolveu o Congresso e abriu o caminho para eleições antecipadas para escapar de um processo de impeachment por corrupção.
Praticamente um desconhecido na política, Noboa chegou de surpresa ao poder de um país castigado pela violência e com anseios de mudança. Até então, ele só tinha ocupado o cargo de congressista por um breve período (2021-2023).
Durante essa época, foi questionado por um suposto conflito de interesse ao financiar de seu próprio bolso a viagem de sete deputados à Rússia, um dos principais destinos da banana produzida pela empresa de sua família. A viagem ocorreu depois da invasão russa da Ucrânia, condenada por Quito, o que alimentou as críticas. Seus inimigos também o acusam de evasão de impostos.
Seu projeto mais comentado para reduzir a violência é o de criar barcos-prisões e penitenciárias no meio da selva para isolar os reclusos de suas redes criminais.
— Estamos em um estado de guerra e não podemos ceder diante destes grupos terroristas — frisou o presidente nesta quarta-feira.