O decreto em que o presidente do Equador, Daniel Noboa, reconheceu "conflito armado interno", na terça-feira (9) é uma espécie de declaração de que o país está em meio a uma guerra civil.
Foi apenas um dia depois da decretação do "estado de exceção" e depois que atos violentos explodiram no vizinho com o qual o Brasil não tem fronteiras.
A decisão foi tomada depois de uma escalada de violência no país. Em uma das cenas mais documentadas, um bando invadiu um estúdio de televisão em Guayaquil, cidade com população maior do que a capital, Quito. Como um programa ao vivo estava no ar, telespectadores assistiram por meia hora a cerca de 10 homens armados e encapuzados ameaçando os profissionais. O sinal foi cortado depois que houve som de disparos, mas o relato é de que os responsáveis foram presos e ninguém ficou ferido.
Seria uma reação à decisão de Noboa de declarar terroristas 22 grupos do crime organizado e ordenar operações das Forças Armadas para neutralizá-los. Existem relatos confirmados e a confirmar de atentados em todo o país, mas concentrados em Guayaquil. Houve sequestro de policiais, motins em penitenciárias e ataques com explosivos nas ruas. Fala-se em crise de segurança, e será preciso ainda algum tempo para entender melhor tanto a extensão dos problemas quanto todas as motivações das decisões tomadas.
Ainda sem sinais claros de que as forças da lei conseguirão domar o desbordamento do crime, o drama do Equador decorre da falta de controle das atividades ilegais até agora. Na campanha eleitoral que terminou com a vitória de Noboa, um dos candidatos, Fernando Villavicencio, foi assassinado. Dias antes, ele havia relatado ameaças de uma gangue ligada ao narcotráfico, Los Choneros (grupo da cidade de Chone).
Além de torcer para que o Equador consiga domar o terror e não afunde, de fato, em uma guerra civil, é preciso refletir sobre o que levou a essa situação. Os cartéis foram tolerados por muito tempo no país e assumiram um poder agora difícil de dominar. É por isso que atitudes ilegais precisam ser punidas, observado o devido processo penal e de forma proporcional ao mal que causaram. Mesmo que não se trate de narcotráfico. O que transforma delito em imposição do terror é a falta de responsabilização.