Depois de muitas reportagens e entrevistas - como a do colega Humberto Trezzi, com o interventor na segurança de Brasília, Ricardo Cappelli - que recuperaram bastidores da tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023, muitos aspectos ficaram claros, inclusive quão perto o Brasil chegou da ruptura institucional.
O que falta, um ano depois, é identificar financiadores - que nesta segunda-feira (8) são alvo de operação da Polícia Federal - e os mentores. Investigar e prender quem atentou contra o patrimônio público e a democracia não é perseguição, é obrigação legal de quem está em seu turno de vigilância no cuidado do interesse público.
A quebradeira promovida na Praça dos Três Poderes há um ano não foi fruto de indignação popular espontânea. Se fosse, nem assim teria sido legítima, exatamente por envolver destruição do patrimônio público - que não pertence ao governo de plantão, mas ao povo brasileiro. Foi um ataque organizado, com ônibus fretados e pessoas treinadas para quebrar, invadir e até a reagir à primeira tática de defesa.
Uma das imagens recuperadas no documentário 8/1 - A Democracia Resiste, dos jornalistas Julia Duailibi e Rafael Norton (para quem não viu, há uma amostra aqui), mostra os "manifestantes" usando mangueiras de água, uma das poucas maneiras de cortar os efeitos do produto irritante. A maioria das pessoas, inclusive eventuais incautos que tivessem sido conduzidos aos atos de violência por ingenuidade, não teria informação e rápida iniciativa para tomar essa atitude.
Ao longo dos dias e meses, o objetivo dos golpistas ficou claro: provocar a decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que abriria a possibilidade para provocação das Forças Armadas. Era tão clara a quebra da institucionalidade que o comando militar resistiu, responsavelmente, à adesão convocada pelos supostos baderneiros. Caso contrário, o Brasil teria se tornado um pária internacional, a antifaçanha sonhada por um ex-ministro das Relações Exteriores.
A democracia, de fato, resistiu. Mas para desencorajar novas aventuras golpistas é essencial responsabilizar executores, financiadores e mentores. Obviamente, sempre com base em provas, não em convicções. Quem financiou investiu em um pesadelo particular e quem organizou ignorou todas as leis e regras vigentes para assumir o poder de forma ilegítima, com argumentos desonestos e contrários aos interesses nacionais.