O presidente do Equador, Daniel Noboa, decretou, nesta terça-feira (9), "conflito armado interno" no país como medida para enfrentar grupos de narcotraficantes e "neutralizar" organizações criminosas que impõem uma nova onda de terror há dois dias.
"Assinei o decreto executivo declarando Conflito Armado Interno" e "ordenei às Forças Armadas executar operações militares para neutralizar esses grupos", expressou o presidente por meio da rede social X (antigo Twitter).
A medida autoriza, entre outras coisas:
- A intervenção do Exército e da Polícia Nacional no país contra facções criminosas
- Identifica como organizações terroristas 22 facções criminosas e "atores beligerantes não estatais"
- Determina às Forças Armadas a execução de operações militares para "neutralizar" os grupos criminosos, "respeitando os direitos humanos"
Mais cedo, um grupo de homens encapuzados, armados com rifles e granadas, invadiu um estúdio do canal de televisão público TC em Guayaquil. Os criminosos estavam com os rostos escondidos e, durante a transmissão, obrigaram os funcionários a deitarem no chão.
A polícia do Equador afirmou na rede social X (antigo Twitter) que realizou uma intervenção no local. Depois de cerca de duas horas, a situação foi controlada, com 13 pessoas que invadiram os estúdios capturadas, segundo a publicação.
Na segunda-feira (8), o governo equatoriano decretou estado de exceção, também na tentativa de combater as ações criminosas. O decreto ficará em vigor por 60 dias. A medida inclui um toque de recolher de seis horas, entre 23h e 5h no horário local (das 1h às 7h em Brasília).
Crise de segurança
A fuga de Adolfo Macías da prisão, conhecido como Fito, chefe da principal quadrilha criminosa conhecida como Los Choneros, desencadeou a crise no domingo. Nesta terça-feira, as autoridades relataram a fuga de outro líder do tráfico: Fabricio Colón Pico, um dos líderes de Los Lobos. Ele havia sido preso na sexta-feira pelo crime de sequestro e sua suposta responsabilidade em um plano para assassinar a procuradora-geral.
Segundo as autoridades locais, sete policiais foram sequestrados em Machala, no Sudoeste, Quito e na província de Los Ríos, também no Sudoeste. Houve também explosões contra uma delegacia, a casa do presidente do Tribunal Nacional e veículos incendiados.
Explosões em Esmeraldas, no nordeste e perto da fronteira com a Colômbia, também foram registradas. Esta localidade é uma das províncias equatorianas controladas por máfias. Várias pessoas lançaram um artefato explosivo perto de uma delegacia e dois veículos foram queimados em outros locais, sem deixar vítimas.
Em Quito, um veículo explodiu e um dispositivo foi detonado perto de uma ponte de pedestres. Pabel Muñoz, prefeito da cidade, pediu ao Executivo a "militarização" de instalações estratégicas ante a "crise de segurança sem precedentes".
Contexto do conflito
Daniel Noboa, 36 anos, é o presidente mais jovem do Equador e chegou ao poder com a promessa de atacar com firmeza os grupos de traficantes, ligados a cartéis colombianos e mexicanos.
Na semana passada, ele anunciou que construirá dois presídios de segurança máxima nas províncias de Pastaza (no Leste) e Santa Elena (no Sudoeste), ao estilo das construídas pelo presidente salvadorenho, Nayib Bukele, em sua guerra contra as gangues.
Localizado entre a Colômbia e o Peru, os maiores produtores mundiais de cocaína, o Equador deixou de ser uma ilha de paz para se tornar um forte de guerra às drogas. O ano de 2023 terminou com mais de 7,8 mil homicídios e 220 toneladas de drogas apreendidas, novos recordes no país de 17 milhões de habitantes.
Desde 2021, os confrontos entre presidiários deixaram mais de 460 mortos. Além disso, os homicídios nas ruas entre 2018 e 2023 cresceram quase 800%, passando de 6 para 46 por 100 mil habitantes.