Um nome sem muita expressão nacional, que acabou alçado aos holofotes internacionais com a renúncia de Evo Morales. Assim é descrita Jeanine Añez Chávez, que se declarou presidente interina da Bolívia.
Advogada de formação, Jeanine, 52, foi diretora de um canal de TV local em sua cidade de origem, Trinidad, no departamento de Beni.
Entrou para a política em 2006 como membro da Assembleia Constituinte e participou da elaboração da Constituição boliviana promulgada em 2009.
Já era de oposição nessa época, defendendo bandeiras como a limitação dos poderes presidenciais e a maior autonomia dos governos regionais.
Nas eleições daquele ano, venceu a corrida para o Senado pela aliança de direita Plan Progreso para Bolívia-Convergência Nacional. Em 2015, foi eleita pela agremiação também direitista Unidad Demócrata.
Sua bancada sempre foi minoritária, e foi graças a isso que ela se tornou a segunda vice-presidente do Senado. Pela lei boliviana, esse cargo deve ser ocupado por um integrante da minoria na Casa.
— Ela nunca foi uma líder de primeira linha, apesar de ter bastante experiência na política — conta Christopher André, repórter do jornal boliviano El Deber.
Em seus discursos, frequentemente faz críticas ao socialismo e, há duas semanas, manifestou o temor de que a Bolívia se aproximasse da realidade de Venezuela, Nicarágua "ou, o que é pior, Cuba".
— É conhecida por ter desempenhado forte papel na Constituinte e na defesa da autonomia regional. Mas não teria sido candidata a esse cargo [de presidente] em outra situação — diz o jornalista.
A Constituição da Bolívia determina que, em caso de ausência do presidente do país, assuma o vice-presidente, seguido pelo líderes do Senado ou da Câmara - mas todos eles renunciaram junto com Evo.
O primeiro vice-líder do Senado, também governista, foi outro que pediu demissão.
Ainda que a Constituição não determine quem assume caso o cargo de presidente da Câmara esteja vago, Jeanine afirma que ela é a próxima na linha de sucessão.
A solução para o vácuo de poder no Executivo seria decidida nesta terça (12) pelo Senado, que aguardava quórum para realizar a sessão. No entanto, não houve quórum, muito menos votação.
Mesmo assim, Jeanine se declarou presidente.
Beni, departamento do qual ela é representante, fica na região amazônica, na fronteira com o Estado brasileiro de Rondônia. Com grande área e pouca população, tem a pecuária como atividade econômica principal e foi, por muito tempo, um bastião da oposição a Evo.
Em 2017, um sobrinho da senadora foi detido no Brasil acusado de narcotráfico. O episódio foi usado contra ela por um ministro de Evo, a quem a senadora chamou de "canalha".
Ela se desvinculou do caso, dizendo que não era responsável pelos atos do sobrinho.
Jeanine é casada com Héctor Hincapié Carvajal, membro do Partido Conservador Colombiano, que se candidatou, sem sucesso, a senador em seu país.