Com o vácuo de poder deixado na Bolívia após a renúncia do agora ex-presidente Evo Morales, a senadora Jeanine Añez Chávez reivindicou no domingo (10) o direito de assumir o cargo de mandatária do país. A parlamentar de 52 anos é formada em Direito, faz parte da aliança opositora Unidad Demócrata e é a segunda vice-presidente do Senado do país.
Pela Constituição boliviana, a sucessão passa primeiro para o vice-presidente da República, depois para o presidente do Senado e então ao presidente da Câmara dos Deputados. Contudo, todos eles renunciaram com Morales, criando uma situação de incerteza na linha de sucessão constitucional.
O primeiro vice-presidente do Senado, Rubén Medinacelli, das fileiras da situação, também renunciou. Por isso, Añez, que é a segunda vice-presidente do Senado, crê que lhe corresponde assumir o cargo deixado no vácuo com a saída de Evo Morales.
— Estou na segunda vice-presidência e na ordem constitucional me corresponderia assumir este desafio (da presidência) com o único objetivo de convocar novas eleições — disse Añez, entrevistada pela emissora de TV privada Unitel.
A senadora defendeu a convocação de sessões do Congresso bicameral, o mais rápido possível, "para considerar a renúncia dos primeiros mandatários". Para elegê-la no cargo de presidente, é necessário uma sessão no Senado. Com as tensões no país e a prisão de diversos partidários de Evo Morales, inclusive a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, nenhuma sessão foi convocada.
Para isso, Añez deverá pedir um "consenso dos movimentos cívicos" que pediram nas ruas a renúncia de Morales. A sorte do ex-mandatário foi definida com a solicitação de militares e de policiais amotinados para que deixasse o cargo.
Histórico
Em suas redes sociais, a senadora fez diversas publicações apoiando as manifestações que tomaram conta do país contra a reeleição de Evo Morales. No dia 6 de novembro, a senadora convoca a população para participar do protesto contra o então presidente boliviano. "Junte-se à greve, é pela democracia, é por você, pelos seus filhos, pelos meus, por dias melhores para a Bolívia!", escreveu.
No dia 31 de outubro, a senadora também chamou os cidadãos para participar da greve em Trindad. "Pela democracia, por respeito ao nosso voto, façamos um esforço por alguns dias, o pior é chegar ao que agora é Venezuela e a repressão da Nicarágua, ou, o que é pior, a Cuba."
Jeanine foi eleita senadora em 2010, pelo partido Plan Progreso para Bolivia-Convergencia Nacional (P.P.B - C.N). Antes disso, entre 2006 e 2008 ela exerceu o cargo de constituinte da Assembleia Constituinte, que definiu a carta magna do país em 2009. A advogada também integrou o Membro do Comitê Executivo Nacional do Movimento Social-democrata e foi ex-diretora de mídia da Totalvision.
Evo Morales renunciou ao cargo
Os resultados de uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgada no domingo apontou "graves irregularidades" nas eleições, desencadeando os eventos que levaram à renúncia de Morales. No domingo, depois da divulgação do relatório, o ex-presidente anunciou a realização de novas eleições, mas não conseguiu aplacar a ira da oposição. Durante o dia, ele enfrentou uma avalanche de renúncias de altos integrantes do governo, e acabou renunciando após a pressão decisiva dos militares e da polícia.
Não está claro qual será o destino do ex-presidente. Morales disse que não deixará a Bolívia, mas o México já lhe ofereceu asilo. O ministro das Relações Exteriores mexicano Marcelo Ebrard informou que "20 personalidades do executivo e legislativo boliviano" se asilaram na embaixada mexicana em La Paz.
O ex-presidente, politicamente forjado como sindicalista da coca, defendeu seu legado que, segundo ele, trouxe progresso econômico e social a uma das nações mais pobres da América Latina."Estamos deixando a Bolívia com muitas conquistas sociais", disse ele em sua mensagem de renúncia.