A renúncia de Evo Morales, após três semanas de protestos contra sua reeleição e depois de perder o apoio das Forças Armadas, deixa um vácuo de poder na Bolívia, onde no momento ninguém sabe quem comanda o país. A Constituição prevê que a sucessão começa com o vice-presidente, depois passa para o titular do Senado e depois para o presidente da Câmara dos Deputados, mas todos eles renunciaram com Morales.
As renúncias do vice-presidente Álvaro García, da presidente e do vice-presidente do Senado, Adriana Salvatierra e Rubén Medinacelli, e do titular da Câmara dos Deputados, Víctor Borda, criaram portanto uma situação de incerteza e vazio sobre a cadeia de sucessão constitucional. Neste cenário, a segunda vice-presidente do Senado, a opositora Jeanine Añez, reivindicou o direito de assumir a presidência da Bolívia.
— Ocupo a segunda vice-presidência e na ordem constitucional me corresponderia assumir este desafio com o único objetivo de convocar novas eleições — afirmou Añez em uma entrevista ao canal Unitel.
Morales renunciou no domingo (10), pressionado por militares, policiais e pela oposição, que exigiram que deixasse o cargo que ocupava desde 2006 com o objetivo de pacificar o país. A ação provocou muitas comemorações, mas também violência em La Paz e outros pontos do país.
Morales denunciou a existência de uma ordem de prisão "ilegal" contra ele, uma afirmação negada pelo chefe de polícia, o general Yuri Vladimir Calderón. O ex-presidente, que viajou para algum ponto da região cocaleira de Chapare, seu berço político, no departamento de Cochabamba (centro), também afirmou que "grupos violentos" atacaram sua residência.
Não está claro qual será o destino de Morales. Ele afirmou que não abandonaria a Bolívia, mas o México ofereceu asilo, anunciou o chanceler Marcelo Ebrard, que falou em "20 personalidades do Executivo e do Legislativo da Bolívia" refugiadas na embaixada mexicana na capital boliviana.
Detenções no Tribunal Eleitoral
Os resultados de uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) divulgados no domingo, que apontavam "sérias irregularidades" nas eleições, desencadearam os acontecimentos que levaram à renúncia de Morales. Durante a manhã, ao tomar conhecimento do relatório, o agora ex-presidente anunciou novas eleições, mas a notícia não foi suficiente para conter a ira da oposição.
Morales enfrentou durante o domingo uma avalanche de renúncias de altos funcionários, em alguns casos depois de terem tido suas casas incendiadas, e a pressão decisiva dos militares e da polícia, que pediram sua renúncia. Após a renúncia de Morales, a polícia prendeu a presidente do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), María Eugenia Choque, e outros funcionários do organismo por ordem do Ministério Público, que investiga irregularidades cometidas nas eleições.