Com o vácuo de poder estabelecido após a renúncia de Evo Morales sob ordem das forças armadas, a segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Añez Chávez, de oposição, se proclamou presidente da Bolívia no final da tarde desta terça-feira (12).
Ela é a primeira na linha sucessória do agora ex-presidente Evo Morales, uma vez que os presidentes da Câmara e do Senado e seus vices imediatos também renunciaram. Ela assumiu o poder prometendo convocar novas eleições.
Logo após a posse, o Tribunal Constitucional da Bolívia emitiu um comunicado afirmando que Jeanine Añez é a sucessora legítima da presidência da República.
Impasse sobre quórum
A autoproclamação de Jeanine Añez acontece em meio a mais um impasse no Congresso boliviano. Para iniciar a sessão que proclamaria a senadora presidente da República, seria necessário um quórum de pelo menos a metade dos parlamentares da Bolívia.
Entretanto, dos 166 congressistas (130 deputados e 36 senadores), 113 são do Movimiento Al Socialismo (MAS), partido de Evo Morales, e decidiram não comparecer à sessão. Para comparecer, os parlamentares da bancada de Evo Morales no Congresso exigiram "as mais amplas garantias" e a retirada das barricadas que cercam a sede do Legislativo para instalar a sessão.
— Solicitamos as mais amplas garantias para poder celebrar a sessão porque é de conhecimento público que nas proximidades da praça [Murillo] as barricadas continuam — disse a líder da bancada do Movimento ao Socialismo (MAS), a deputada Betty Yañíquez, em coletiva de imprensa.
Mesmo assim, Añez decidiu ignorar a falta de quórum e se proclamou presidente, fazendo o juramento à Constituição.
— Queremos convocar eleições o mais rápido possível. Temos a necessidade de criar um clima de paz social — afirmou Jeanine Añez no seu discurso de posse.
A senadora, de 52 anos, representa o Estado de Bení. Ela foi eleita pelo Convergencia, um partido de centro-direita, e depois migrou para o Democratas, do mesmo espectro político. Nas eleições bolivianas, Jeanine apoiou o candidato Óscar Ortiz, que obteve 4,24% dos votos. Na segunda-feira (11), ela afirmou que vai trabalhar para que um novo presidente assuma o poder até 22 de janeiro de 2020.
— Agradeço aos que nos acompanham, o movimento cívico, os irmãos indígenas, a Igreja, amamos a Bolívia. Quero agradecer a essa juventude que saiu às ruas e que não conhecia outro objetivo. Eles saíram para mostrar que sim, se podia. Queria pedir um minuto de silêncio pelos que morreram nas últimas semanas — complementou a senadora.
No início da tarde desta terça, Evo, que comandou o país entre 2006 e o último domingo (10), chegou ao México como asilado político. No Twitter, ele denunciou o ato de proclamação, afirmando que é inconstitucional.
— (A posse) é consumada sobre o sangue de irmãos assassinados por forças policiais e militares usadas para o golpe — declarou Evo.
Histórico
Jeanine foi eleita senadora em 2010, pelo partido Plan Progreso para Bolivia-Convergencia Nacional (P.P.B - C.N). Antes disso, entre 2006 e 2008 ela exerceu o cargo de constituinte da Assembleia Constituinte, que definiu a carta magna do país em 2009. A advogada também integrou o Membro do Comitê Executivo Nacional do Movimento Social-democrata e foi ex-diretora de mídia da Totalvision, um canal de TV da sua cidade natal, Trinidad.
Em suas redes sociais, a senadora fez diversas publicações apoiando as manifestações que tomaram conta do país contra a reeleição de Evo Morales. No dia 6 de novembro, a senadora convoca a população para participar do protesto contra o então presidente boliviano. "Junte-se à greve, é pela democracia, é por você, pelos seus filhos, pelos meus, por dias melhores para a Bolívia!", escreveu.
No dia 31 de outubro, a senadora também chamou os cidadãos para participar da greve em Trindad. "Pela democracia, por respeito ao nosso voto, façamos um esforço por alguns dias, o pior é chegar ao que agora é Venezuela e a repressão da Nicarágua, ou, o que é pior, a Cuba."