O Palácio do Planalto divulgou nota negando que o presidente Jair Bolsonaro tenha tomado conhecimento ou incentivado a invasão à embaixada da Venezuela em Brasília nesta quarta-feira (13). Inicialmente, a publicação assinada pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) falava em invasão por partidários do autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó. Minutos depois, no entanto, a assessoria de imprensa da Presidência divulgou nova versão do texto, em que é retirado o nome do líder que faz oposição ao presidente Nicolás Maduro.
"O presidente da República jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão da embaixada da Venezuela", diz o texto atualizado, antes acrescido do trecho "por partidários do Sr. Juan Guaidó". Ainda na mensagem, a assessoria de imprensa do GSI, pasta comandada pelo ministro general Augusto Heleno, diz que "indivíduos inescrupulosos e levianos querem tirar proveito dos acontecimentos para gerar desordem e instabilidade".
Depois de uma hora e meia, enquanto o presidente participava de cerimônia no Palácio do Itamaraty ao lado do líder chinês Xi Jinping, uma mensagem foi postada em suas redes sociais em tom de repúdio à ação na embaixada.
"Diante dos eventos ocorridos na embaixada da Venezuela, repudiamos a interferência de atores externos. Estamos tomando as medidas necessárias para resguardar a ordem pública e evitar atos de violência, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas", escreveu.
O texto publicado por Bolsonaro difere do tom usado pelo GSI. O presidente evitou pontuar culpados e não usou a palavra invasão.
A invasão da embaixada por aliados de Guaidó nesta quarta causou constrangimento ao governo brasileiro, que sedia a cúpula dos Brics. A intenção do Planalto era manter temas considerados controversos, como a situação da Venezuela e de outros países latino-americanos, como a Bolívia, fora da pauta.
Entre os chefes de Estado que participam do encontro estão os líderes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, aliados de Maduro.
Ainda na nota, o GSI informou que as forças de segurança, da União e do Distrito Federal estão tomando providências para que a situação se resolva pacificamente e retorne à normalidade. O gesto foi visto como proposital pelo governo brasileiro, pelo constrangimento diplomático no dia que marca o início da cúpula dos Brics.
Ocupando a embaixada
Na manhã desta quarta, Tomás Silva, ministro-conselheiro e número dois da embaixadora María Teresa Belandria, representante de Guaidó, invadiu o prédio da embaixada em Brasília. O episódio gerou tumulto no local, e a polícia militar teve de ser chamada.
Parlamentares de partidos de esquerda do Brasil, como PT e PCdoB, publicaram críticas nas redes sociais à atitude de Silva.
Aliados da Venezuela, como integrantes da diplomacia cubana em Brasília, também protestam contra o ingresso do diplomata oposicionista. Nas primeiras horas da manhã, o encarregado de negócios da embaixada venezuelana em Brasília, Freddy Efrain Meregote Flores, distribuiu uma mensagem de áudio a aliados pedindo ajuda.
— Informo a vocês que pessoas estranhas estão entrando e violentando o território da Venezuela. Precisamos de ajuda, precisamos de ação imediata de todos os movimentos sociais de partidos políticos — afirmou Meregote.
Enquanto apoiadores de Maduro falam em invasão, aliados de Guaidó afirmam que funcionários da embaixada facilitaram o ingresso na representação diplomática, o que seria um reconhecimento de sua legitimidade como presidente autoproclamado.
O senador Telmário Mota (PROS-RR), presidente da Subcomissão de Relações Exteriores que acompanha a crise venezuelana, disse em vídeo ter sido impedido pelo Ministério das Relações Exteriores de auxiliar a mediação do conflito entre partidários de Guaidó e Maduro na embaixada do país caribenho em Brasília. Ele afirma, na gravação, ter sido chamado por funcionários da embaixada.
— Fui chamado por membros da embaixada para dialogar, buscar um entendimento. (...) Ao chegar lá, fui impedido de entrar pelo Ministério das Relações Exteriores — diz Telmário. — Desde quando o MRE controla quem entra e quem sai de uma embaixada, que é território de um outro país? Sabe o que está me parecendo? Que essa invasão foi orquestrada por esse ministério — continua o senador.
— Se isso estiver acontecendo, estão ferindo a Constituição, estamos vivendo em um estado de ditadura e, mais grave do que isso, estão colocando o Brasil numa briga que não é nossa — conclui.