
O anúncio de Robert Prevost como novo papa foi recebido como uma continuidade do trabalho de seu antecessor por sacerdotes católicos e teólogos consultados por Zero Hora. Nomeado cardeal por Francisco e desde 2023 prefeito do Dicastério para os Bispos — órgão da Cúria Romana que seleciona os novos bispos no mundo —, Prevost tem tradição progressista em sua trajetória na Igreja.
— O Prevost é alinhado ao papa Francisco, que confiava muito nele. É um homem muito humano e com uma grande sensibilidade social — afirma o reitor da Unisinos, padre Sérgio Mariucci.
Segundo Ivo Lesbaupin, ex-frei dominicano e coordenador da ONG Iser Assessoria — Religião, Cidadania e Democracia, o nome adotado pelo Sumo Pontífice, Leão XIV, já sinaliza a inclinação reformista do novo pontificado.
— A escolha do nome é significativa. Leão XIII foi quem abriu a Igreja para a questão operária. Ele está dando a entender que vai nessa direção — afirma Lesbaupin.
Tanto Mariucci quanto Lesbaupin destacam a importância de Leão XIII na condução das questões trabalhistas dentro da Igreja por ser autor da encíclica Rerum Novarum, doutrina de profundo teor social publicada em 1891. Tal entendimento é compartilhado por um dos principais teólogos do Rio Grande do Sul, padre Érico Hammes, que colaborou na elaboração da Fratelli Tutti, a terceira encíclica lançada por Bergoglio em 2020.
Da Alemanha, onde havia acabado de celebrar uma missa em comemoração aos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, Hammes comentou como o primeiro pronunciamento do novo papa apontou os caminhos de seu pontificado:
— Ele segue Leão XIII, o papa que inicia a doutrina social da Igreja. A fala dele foi muito pertinente na temática da unidade da Igreja e da paz mundial.
Mariucci cogita, ainda, outra possibilidade sobre a escolha do nome: uma referência ao secretário pessoal e principal confidente de São Francisco de Assis, Frei Leão. Seria uma forma de homenagear a amizade cultivada nos últimos anos com Bergoglio, além de reforçar a proximidade entre eles.
Lesbaupin cita o profundo conhecimento teológico de Prevost, formado em direito canônico, e sua larga experiência diplomática. De acordo com o ex-frei, embora seja americano, o novo papa é crítico ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
— Ele é progressista e crítico ao Trump. Não é um americano submisso — resume Lesbaupin.
— O Prevost tem uma grande sensibilidade em relação aos migrantes, conhece muito bem a América Latina, então acho que vai contrapor-se ao Trump como figura internacional — faz coro Mariucci.
Professor emérito da PUCRS e professor sênior da PUC do Paraná, Hammes também salienta o peso da escolha na atual conjuntura sociopolítica e a experiência internacional de Prevost.
— Estamos muito bem servidos. Minha avaliação é muito positiva. O fato de ser alguém dos Estados Unidos tem uma força simbólica numa hora em que os Estados Unidos têm um papel tão relevante naquilo que está acontecendo no mundo. É promissor — afirmou.