O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, definiu o chefe do Executivo nacional brasileiro Jair Bolsonaro como um "extremista ideológico". Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada nesta terça-feira (17), Maduro defendeu que o Brasil continue mantendo contato com a Venezuela, e afirmou que ainda "voltarão os dias em que haverá um governo no Brasil com quem possamos nos entender".
— Bem, tem havido sempre contato com as forças militares do Brasil, e creio que eles devem continuar. Com o governo, você sabe que Bolsonaro é um extremista ideológico. Recentemente ele declarou sua admiração pelo (ex-)ditador (chileno) Augusto Pinochet, que é uma espécie de Hitler sul-americano — afirmou.
— Em sua mente está apenas a agressão contra a Venezuela. Ele não é um político. Lamentavelmente, à frente de muitos governos da América do Sul não há políticos com "p" maiúsculo, com doutrina, que saibam respeitar a diversidade —defendeu o venezuelano. — Ele, como presidente do Brasil, com uma fronteira tão grande com a Venezuela, e uma história comum, estaria obrigado, se fosse um estadista, a ter uma comunicação mínima com a Venezuela. Voltarão os dias em que haverá um governo no Brasil com quem possamos nos entender — acrescentou.
Durante a entrevista, Maduro desmentiu os rumores de que a Força Armada Nacional Bolivariana não estaria unificada sob seu comando e afirmou que as ameaças de Bolsonaro e do mandatário americano Donald Trump têm unido ideologicamente e institucionalmente a entidade.
Questionado se as forças armadas venezuelanas participariam de uma possível guerra, Maduro retrucou:
— Eu não quero falar de guerra. Quero falar de paz. Eu sou cristão, convencido, praticante, de oração e de ação. Estou convencido de que aqui vai triunfar a paz frente às ameaças e às loucuras da ultradireita, de Bolsonaro, de Trump e de toda essa gente.
Além disso, Maduro voltou a criticar o relatório elaborado pela alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet — que apontou a possibilidade de execuções extrajudiciais e casos de torturas e maus-tratos de detentos na Venezuela —, afirmando que a equipe dela não ouviu o povo venezuelano.
— Falaram, mas não escutaram. Não viram o esforço imenso que nosso povo está fazendo em meio ao assédio do bloqueio econômico, profundamente criminoso. Dizer que a Venezuela é uma ditadura é uma estupidez histórica. E quem o diga é um estúpido.
No último dia 4 de julho, Bachelet escreveu um relatório denunciando o número "surpreendentemente elevado" de supostas execuções e prisões arbitrárias na Venezuela. Mais tarde, em 9 de setembro, a alta comissária chamou a atenção para novos casos de "possíveis execuções extrajudiciais", assim como "torturas e maus-tratos" de detentos.
O caso gerou repercussão internacional. O postulante à presidência na Argentina, Alberto Fernández — que tem como candidata a vice Cristina Kirchner — chegou a afirmar que há um regime autoritário na Venezuela.
— Quem o diga, onde o diga, é um estúpido. À Venezuela se respeita. A Venezuela é uma democracia sólida. Ameaçada. Assediada — defendeu Maduro.
O presidente Jair Bolsonaro frequentemente cita a Venezuela como um regime ditatorial. Maduro, porém, manteve-se cético às criticas vindas do mandatário.
— É uma estupidez que ele (Bolsonaro) se declare admirador de Pinochet e diga que a revolução bolivariana é uma ditadura — disparou.