A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, denunciou nesta quinta-feira (4) o número "surpreendentemente elevado" de supostas execuções extrajudiciais cometidas pelas forças de segurança na Venezuela.
Em seu relatório depois da visita à Venezuela, de 19 a 21 de junho, Bachelet ressalta que "os grupos armados civis pró-governamentais conhecidos como coletivos contribuíram para a deterioração da situação, ao impor o controle social e ajudar a reprimir as manifestações".
Em suas conclusões, a ex-presidente do Chile pede a dissolução das Forças Especiais (FAES), à qual ela atribui em particular a maioria dos 5.287 assassinatos extrajudiciais. As mortes teriam ocorrido, supostamente, devido à "resistência à autoridade", durante as operações policiais em 2018.
— Entre 1º de janeiro e 19 de maio deste ano, outras 1.569 pessoas foram mortas, segundo as estatísticas do próprio governo, e outras fontes sugerem que os números pode ser muito maiores — ressalta Bachelet.
Além disso, há 793 pessoas arbitrariamente privadas de liberdade, diz a alta comissária. Bachelet presidiu o Chile entre 2006 e 2010, e era aliada do então presidente venezuelano Hugo Chávez, morto em 2013.
A Venezuela atravessa uma profunda crise política há meses, com a disputa entre o presidente Nicolás Maduro e a oposição ao lado do presidente interino autodeclarado, Juan Guaidó, reconhecido por cerca de 50 países.
O país também está passando por uma grave crise econômica, agravada por um embargo de petróleo e por sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos para tentar tirar Maduro do poder.
— O governo se recusou a reconhecer a magnitude da crise até recentemente e não adotou as medidas apropriadas. A situação é complexa — admite Bachelet, que conseguiu se encontrar com os principais protagonistas da crise e com algumas vítimas.
— Este relatório contém recomendações claras sobre medidas que podem ser tomadas imediatamente para parar as violações atuais, fornecer justiça às vítimas e criar um espaço para discussões significativas — diz Bachelet.
Além da dissolução das FAES e dos "coletivos", Bachelet recomenda a criação de "um mecanismo nacional imparcial e independente" para analisar essas execuções extrajudiciais. Ela também pede ao governo que publique regularmente dados abrangentes sobre saúde, acesso à água e comida, entre outros, da população venezuelana.
O relatório recorda que o Alto Comissariado solicitou a criação de um escritório permanente na Venezuela.