O número de solicitações de refúgio recebidas pelo Brasil mais do que dobrou no último ano, de 33,8 mil em 2017, para 80 mil em 2018. O aumento deve-se ao esfacelamento político, econômico e institucional na Venezuela.
Cerca de 61,6 mil pessoas solicitaram proteção do lado de cá da fronteira no ano passado, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), que divulgou nesta quarta-feira (19), um dia antes do Dia Mundial do Refugiado, seu relatório Global Trends — Forced Displacement in 2018, o mais importante documento sobre a situação de populações deslocadas em razão de guerras, perseguições políticas e questões econômicas.
Considerando os requerimentos em todo o mundo, os venezuelanos foram os que mais pediram refúgio em 2018, com 341,8 mil pedidos. É bem mais do que os afegãos, por exemplo, que aparecem em segundo lugar, com 107,5 mil solicitações. Apesar do aumento considerável de pedidos de refúgio ao Brasil, o país não é o principal destino dos venezuelanos, que preferem Colômbia, Peru, Chile, Equador e Argentina.
O relatório das Nações Unidas informa que o fechamento de fronteiras, determinado pelo regime de Nicolás Maduro, em fevereiro, obrigou os venezuelanos a buscarem rotas "irregulares e perigosas", expondo-os a zonas infestadas por grupos armados e guerrilhas. A fronteira com o Brasil, em Roraima, foi reaberta em maio. Com a Colômbia, a passagem passou a ser permitida de novo em junho.
Os números do êxodo venezuelano provavelmente são ainda maiores, porque nem todos que deixam o país vizinho oficializam o pedido de refúgio. O próprio Acnur informa que meio milhão de pessoas fizeram a solicitação desde 2015 — embora expressivo, esse dado é bem menor do que os 4 milhões de venezuelanos que saíram da nação desde 2015, segundo o próprio órgão.
Síria lidera ranking com pessoas fora de suas casas
Em nível global, o relatório aponta um recorde histórico. Nos últimos 70 anos, nunca houve tantas pessoas obrigadas a deixar suas casas por causa de guerras ou perseguições por etnia, posições políticas, religião ou orientação sexual. Em 2018, havia 70,8 milhões de seres humanos nessas condições. É mais do que seis vezes a população do Rio Grande do Sul. Ou, para efeito de comparação, como se as pessoas que vivem nos Estados do sul do Brasil e em São Paulo tivessem que se mudar inteiramente para outro país em razão de perseguições. Do total, 58,3% estão deslocadas dentro de seus próprios países, são os chamados deslocados internos.
A Síria continua liderando a maior massa humana de pessoas fora de seus lares. Mais de 6,7 milhões de seres humanos deixaram o país em guerra civil. Afeganistão, Sudão do Sul e Mianmar também viveram êxodos forçados e ocupam o topo da lista. Por outro lado, os países que mais receberam migrantes são Turquia, Paquistão e Uganda, nações vizinhas às regiões de conflito. O único país europeu entre os cinco mais receptivos é a Alemanha.
Chama a atenção o caso sírio, nação que, desde 2011, vive um conflito interno entre forças do governo do ditador Bashar al-Assad, oposição armada e grupos extremistas como Estado Islâmico, que, sufocado no vizinho Iraque, passou a reunir forças do outro lado da fronteira. Dos 6,7 milhões de sírios forçados a deixar o país desde o início do conflito, cerca de 210,9 mil voltaram no ano passado, em especial da vizinha Turquia. O Acnur alerta, porém, que não há garantias e condições suficientes para um retorno em "larga escala, seguro e com dignidade".