A chefe do Alto Comissariado da ONU para direitos humanos, Michelle Bachelet, está impulsionando a libertação de "presos políticos" na Venezuela, disse nesta sexta-feira (21) o líder opositor Juan Guaidó, depois de se encontrar com a ex-presidente chilena em Caracas.
— Ela nos disse que está insistindo na libertação dos presos políticos — afirmou Guaidó, reconhecido por mais de 50 países como presidente interino autoproclamado da Venezuela.
De acordo com Guaidó, dois membros da equipe de Bachelet permanecerão no país para investigar questões relacionadas à escassez de alimentos e remédios, assim como acusações de abusos dos direitos humanos por parte da ditadura de Nicolás Maduro na repressão a opositores.
Bachelet, que está em visita de três dias ao país, deve se reunir ainda nesta sexta (21) com o presidente em exercício.
A ONG Foro Penal estima em 687 o número de pessoas detidas por motivos políticos, embora o presidente Nicolás Maduro negue que estas sejam as razões. Bachelet realizou uma reunião na quinta-feira (20) com alguns familiares dos presos — muitos deles são acusados de conspirar para a derrubada do regime atual.
Ela teria ficado "muito emocionada" com o encontro, segundo Guaidó. A chilena também recebeu parentes de pessoas mortas durante os protestos contra o governo — ONGs de direitos humanos estimam em 200 as vidas perdidas desde 2014.
Guaidó afirmou também ter conversado com Bachelet sobre a "perseguição" sofrida pelo Legislativo. Vários deputados estão presos, exilados, refugiados em embaixadas ou escondidos.
Um dos casos mais recentes foi o vice-presidente da câmara, Edgar Zambrano, preso sob a acusação de apoiar uma insurreição militar fracassada contra Maduro, liderada por Guaidó em 30 de abril. Outros 14 legisladores enfrentam a mesma acusação em liberdade.
A visita de Bachelet "fala da importância da situação, da crise, do reconhecimento, de uma emergência humanitária complexa que está à beira de se tornar uma catástrofe", disse Guaidó. Ele participa nesta sexta de um protesto para denunciar a crise.
Na quinta, a ex-presidente do Chile se encontrou com altos funcionários do regime chavista: o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, peça-chave na sustentação da ditadura de Nicolás Maduro; e o procurador-geral, Tarek William Saab, fiel ao ditador.
Na capital venezuelana, centenas de pessoas se concentraram em diversos pontos para advertir Bachelet sobre o colapso na área de saúde e sobre a existência de presos políticos, entre outras denúncias.
Sob o regime de Maduro, a escassez de produtos básicos se agravou, e o FMI projeta uma inflação acima de 10.000.000% em 2019.
Segundo a ONU, um quarto da população venezuelana, o equivalente a 7 milhões de pessoas, requer ajuda humanitária urgente. Outros 4 milhões, aproximadamente, deixaram o país desde 2015.
Bachelet disse que a recusa do regime em reconhecer os problemas dificulta a tomada de medidas para aliviar a situação dos venezuelanos. Na quarta (19), Maduro disse estar aberto a escutar "recomendações" da diplomata. O chanceler, Jorge Arreaza, após recebê-la, afirmou que o regime está disposto a "corrigir" o que for apontado pela ONU.
A chilena é crítica das sanções impostas pelos EUA para asfixiar Maduro e em apoio a Guaidó. Ela teme que a proibição de vender petróleo venezuelano no mercado americano agrave a situação de penúria da Venezuela.
Bachelet deve fazer uma única declaração na noite desta sexta, com a qual encerrará sua visita iniciada na quarta-feira (19).