O governo estadual abriu processos administrativos disciplinares (PADs) contra servidores e ex-servidores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Eles foram citados em sindicância sobre descumprimento de horários na Central Estadual de Regulação do Samu em Porto Alegre, ação revelada pelo Grupo de Investigação (GDI) do Grupo RBS em agosto do ano passado.
Um fato que chama atenção é que entre os processados, está o enfermeiro Cleiton Félix, que repassou as informações sobre o escândalo ao GDI. Os PADs foram publicados no Diário Oficial do Estado (DOE-RS) nesta quarta-feira (31). Com base em seus relatos, a reportagem comprovou que médicos da central que atende a chamados do número 192 de todo o Estado chegavam a cumprir apenas um terço da jornada de trabalho, provocando demoras de até duas horas no atendimento telefônico. A sindicância aberta pelo Estado apontou que 33 médicos descumpriam horários.
O enfermeiro também alega que alertou Laura Sarti de Oliveira, ex-diretora-adjunta do departamento de regulação, sobre as fraudes, como revelou a série de reportagens do GDI, mas que não foi ouvido. Laura também será investigada através de PAD e não quis se manifestar em resposta ao GDI.
O Diário Oficial ainda publicou nesta quarta-feira o processo aberto contra o ex-coordenador médico da central, Jimmy Luiz Herrera Espinoza. Ele admitiu que todos sabiam do descumprimento da jornada. Numas das reportagens, revelou que uma médica plantonista usava uma garrafa de água mineral para trancar o teclado do computador e fingir que estava trabalhando. Jimmy não quis gravar entrevista, mas disse que "falou a verdade e que poderá acabar sendo punido" por isso, e que "agiu da forma mais correta possível".
No início do mês passado, foram abertos processos contra outros médicos envolvidos no escândalo, como a médica Carla Baumvol Berger, uma das responsáveis por gerir o ponto dos médicos. O advogado de Carla, Bruno Rosso Zinelli, enviou nota ao GDI dizendo que "a defesa ainda não teve acesso à decisão que determinou a abertura do Processo Administrativo Disciplinar. De todo modo, a abertura do processo nos permitirá demonstrar que a servidora, que tem décadas de elogiável atuação no serviço público, não cometeu nenhuma infração funcional".
A médica Tarine Christ Trennepohl, que chegou a cumprir apenas um terço da carga horária devida, conforme relatórios obtidos pelo GDI, também foi alvo de PAD aberto em 9 de janeiro. Procurada, Tarine não retornou os pedidos de entrevista do GDI.
O que diz a Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS)
"A sindicância fez recomendações de abertura Processos Administrativos Disciplinares (PADs) que estão sendo abertos individualmente, respeitados os ritos administrativos como, por exemplo, a constituição de comissão sindicante para cada um dos processos conforme legislação pertinente."