Clientes do escritório de advocacia de Alessandro Batista Rau, advogado de Porto Alegre investigado por supostamente ludibriar pessoas que ingressam com ações na Justiça do Trabalho, narram episódios de depressão, hospitalização e falta de dinheiro até para moradia, situações que seriam melhor enfrentadas se tivessem à disposição os recursos que haviam sido disponibilizados.
Apuração do Grupo de Investigação da RBS apontou que o advogado supostamente recebia recursos direcionados aos clientes e repassaria valores menores e só depois de muitos apelos.
— Entrei em depressão, estava internado com câncer e sem dinheiro — conta um dos clientes.
Este homem, que pediu para não ter o nome divulgado, foi diagnosticado com a doença durante a ação trabalhista que movia contra sua antiga empregadora. O laudo teria sido usado pelo advogado Alessandro Rau para supostamente agilizar o processo.
A sentença saiu, beneficiando o cliente em R$ 890.191,11, mas o dinheiro só teria sido repassado para o homem após dois meses. E em um valor incorreto.
— Alguém tem de parar ele. Esse advogado não pode continuar atuando na área dele, porque vai continuar fazendo isso. Me sinto angustiado, decepcionado, triste, lesado. Ele não falou em nem um minuto que iria usar meu câncer para me beneficiar. Eu precisei de dinheiro na época, estava internado, meu plano de saúde foi trancado. Ele usou o laudo médico do meu câncer para o bem material dele — desabafa.
Com o desconto dos honorários, o cliente deveria receber R$ 623.133, 77, mas Rau só teria depositado R$ 519.473,42.
Uma outra ex-cliente de Rau também contestou os valores cobrados pelo escritório.
— Havia sim uma diferença e ele ficou muito ofendido porque a gente voltou lá para reclamar. O problema é que ele fez um cálculo rápido ali, mas ele não mostrava para a gente os cálculos, isso que a gente pedia. Ele dizia que a gente não tinha acesso, que era acesso do advogado — contou a mulher, que descobriu que recebeu o dinheiro só após seis meses o valor ser disponibilizado pela Justiça.
Ela não se contentou com a explicação:
— Eu ligava para o escritório, pedia informação e eles não davam, nem do processo e só diziam que eu tinha de esperar. Mas fui até a Justiça e, chegando lá, eu entendi que existia um alvará liberado e eu não fui comunicada disso. Eu só quero o que é meu, mesmo que seja R$ 1. Se realmente tem alguma coisa errada e ele não pagou o que faltava, só quero o que é meu. Financiei a vida dele, não quero isso — desabafa.
A investigação
O advogado e uma empresa que compra créditos trabalhistas — ganhos em processos dos clientes deste profissional — são investigados por supostamente ludibriar pessoas que ingressam com ações na Justiça do Trabalho. O caso passou a ser observado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, que informou sete casos suspeitos à Polícia Civil. Há uma série de outros processos sob análise.
Como forma de convencer os clientes a venderem os créditos trabalhistas, o advogado alegaria que o fim do processo poderia demorar anos e que ainda havia o risco de os direitos alegados pela parte não serem reconhecidos pela Justiça. Desta forma, seriam firmados acordos chamados de cessão de créditos trabalhistas para a empresa que seria do pai do advogado.
Contraponto
Em depoimento à Polícia Civil, Alessandro Batista Rau alegou inocência.
— Ele alega que tudo que fez estava dentro da legalidade, pois firmou contrato com clientes e não fez nada diferente do que o contrato permitia — disse o delegado Vinícius Nahan, que ouviu o suspeito.