Nem as muitas guerras ou catástrofes naturais, minha foto do ano registra um momento sublime nos corredores do Vaticano. Ela retrata o instante em que o recém-nomeado cardeal de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, e o rabino Guershon Kwasniewski, testas encostadas e visivelmente emocionados, se abençoam mutuamente.
Para a cerimônia de nomeação ao cardinalato, em 6 de dezembro, dom Jaime tinha direito de emitir alguns poucos convites. Um deles foi para o rabino Guershon, que por 28 anos atuou em Porto Alegre e hoje está à frente da sinagoga do Temple Beth El, em Riverside, na Califórnia. Guershon voou para Roma especialmente para levar seu abraço a dom Jaime.
Dom Jaime, catarinense de nascimento, e Guershon, nascido na Argentina, são mais do que amigos forjados em terras gaúchas. Ao longo dos anos, eles aprofundaram o chamado diálogo inter-religioso em Porto Alegre, juntamente com outros líderes espirituais da Capital. Muito por causa desta atitude, e por um histórico de tolerância e respeito entre crenças diferentes no Rio Grande do Sul, os gaúchos testemunham de longe ódios religiosos vicejarem em plagas sob abrasão.
A imagem, captada por um padre do Vaticano, não serve de alerta nem de denúncia, como tantas outras que seguramente estão sendo escolhidas, com boas doses de razão, como fotos do ano de 2024. Ela é, antes de tudo, um exemplo e uma inspiração para guiar o mundo em 2025 e além. Nunca precisamos tantos destas bênçãos.