A Polícia Civil abriu inquérito para investigar a possibilidade de fura-fila na prioridade de vacinação em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Duas pessoas que atuam na área de saúde, mas em serviços administrativos, teriam sido imunizadas antes de servidores que estão em contato direto com a covid-19.
A suspeita chegou na prefeitura, que afastou as duas pessoas na sexta-feira (2). Conforme o Executivo municipal, ambas terão as condutas investigadas. Também será aberta uma investigação para descobrir como o nome dos dois foi parar na planilha dos vacinados.
GZH foi atrás dos investigados. Uma das afastadas é coordenadora da Unidade Básica de Saúde Feitoria, Evânia Hoffmann. O outro que irá responder inquérito administrativo é Antoni Silva Kobolt, funcionário de uma empresa terceirizada que presta serviço ao SAMU.
Evânia diz que não pretendia se vacinar antes dos outros. Ela ressalta que trabalha em pronto atendimento e que encaminhou à chefia uma lista com nome de todos os funcionários, motoristas, serviços gerais, e que incluía os do administrativo.
— Quando a vigilância chegou, fez a vacina nos administrativos, farmacêuticas. Eu sou coordenadora, circulo por toda a unidade. Dentro da minha sala, ficam todos os EPIs, os formulários do covid. Os médicos lidam com a minha sala para pegar leito no hospital. Não entendi até agora por que estão crucificando somente eu Já me desgastei tanto com esse assunto. Estou afastada — lamenta a servidora do posto de saúde.
Antoni disse que primeiro vai consultar um advogado, antes de se manifestar.
Inquérito sobre prevaricação e crime contra a saúde
O inquérito policial será conduzido pela delegada Cibele Savi, da 1ª Delegacia de Polícia de São Leopoldo. Ela ainda não ouviu os suspeitos e começou a falar com outros servidores da saúde, para se inteirar da situação. Os crimes investigados são prevaricação (quando um servidor público privilegia a si mesmo ou a um subordinado), e infração à determinação do poder público para impedir propagação de doença contagiosa (artigo 268 do Código Penal).
Por meio de nota, a secretaria municipal da saúde destacou que os servidores afastados tinham plena consciência de que não poderiam ser atendidos neste momento. O prefeito do município, Ary Vanazzi, afirma que serão tomadas medidas para descobrir exatamente como eles tiveram acesso as doses e lamentou a situação.
—As pessoas não aprendem que é preciso respeitar as regras e as normas estabelecidas. No sofrimento que estamos enfrentando com essa pandemia, há pessoas que não têm nenhuma solidariedade. Isso é muito triste —declara o prefeito, a respeito do caso.
São Leopoldo recebeu até agora 1,4 mil doses da vacina CoronaVac, mas tem três mil pessoas incluídas no primeiro grupo prioritário para a vacinação. Por causa da defasagem, a administração estabeleceu que serão inicialmente vacinados:
—Todos os indígenas da aldeia existente no município.
— Profissionais de saúde que trabalham nas áreas da covid-19 no Hospital Centenário, UPA, Centro de Saúde da Feitoria, Centro de Testagem Municipal, Centro de Atendimento Covid, Hospital da Unimed e Centro Clínico Gaúcho.
— Profissionais de saúde em atendimento a pacientes sintomáticos respiratórios nas UBS.
— Idosos e funcionários em instituições de longa permanência, sob a seguinte ordem de prioridade: das mais vulneráveis até as menos, obedecendo a uma classificação estabelecida pela Vigilância em Saúde a partir dos casos de surtos e óbitos ocorridos nestas instituições.