Em 2013, reportagem de Rádio Gaúcha e RBS TV denunciou casos de extração irregular de areia no Jacuí e o sumiço de mais de 100 praias da área. Na época, diretores de órgãos de fiscalização foram afastados dos cargos e a Polícia Federal, na Operação Concutare, prendeu políticos e o então presidente da Fepam.
Por determinação da Justiça Federal, a atividade no rio chegou a ficar totalmente paralisada durante 83 dias, e só foi retomada após as regras da mineração serem modificadas em todo o Rio Grande do Sul.
Cinco anos depois, o GDI voltou ao Jacuí e constatou que o curso de água, responsável por 60% de toda a areia que abastece a Região Metropolitana para construção civil e obras viárias, ainda sofre.
O temor de especialistas é de que, com a alteração nas normas, prejuízos se proliferem.
Diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, o engenheiro e pós-doutor Carlos André Bulhões Mendes explica que a extração em grandes profundidades pode ocasionar danos ambientais graves:
— A retirada de toda a areia do fundo do rio, sem nenhum controle e estudo até chegar no bedrock, retira os freios naturais do curso da água e altera a mecânica pluvial do rio. Isso traz, a médio e longo prazos, consequências como destruição de margens e de obras hidráulicas, como pontes. Tudo pode ser levado pelas águas.
O pesquisador alerta ainda quanto ao risco do processo conhecido como solapamento. Ao serem retirados grandes volumes de areia no meio do rio, deixando o canal mais profundo, o solo das margens desce para ocupar o espaço e, com isso, partes do continente e de ilhas desaparecem embaixo d´água.
O biólogo Jackson Müller, doutor em ecologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), acompanhou visitas do GDI ao Jacuí entre o final de março e o início deste mês. Para ele, a situação preocupante é resultado da fragilidade da fiscalização e das regras de controle:
— O que estamos vendo aqui, com margens e árvores caindo para dentro do rio, demonstra que o processo de licenciamento ambiental para evitar os impactos ocasionados pela mineração.
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Com aparelhos de levantamentos sísmicos, o Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (Ceco) da UFRGS realizou, a pedido do GDI, estudo no Jacuí. O resultado mostra grande número de cicatrizes na superfície rochosa, indicando que mineradores têm descumprido as regras e danificado o fundo do rio.