Criado há um ano, o Grupo de Investigação (GDI) da RBS produziu 31 reportagens, que motivaram a abertura de 29 apurações de órgãos como polícias Civil e Federal (PF), Ministério Público (MP) e Ministério Público de Contas, ganhou prêmios e obteve reconhecimento nacional. A iniciativa, inédita nas redações brasileiras, reúne um editor e 10 repórteres de Zero Hora, RBS TV, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho.
— O GDI é a tangibilização da nossa crença no jornalismo profissional, local e de impacto. O investimento em jornalismo investigativo é peça fundamental do que acreditamos para o futuro — define a vice-presidente de Produto e Operações do Grupo RBS, Andiara Petterle.
O GDI ganhou cinco prêmios regionais e nacionais. Um dos principais foi para o jornalista José Luis Costa, que recebeu o Prêmio Estácio de Jornalismo na categoria Impresso Regional com "O homem da faculdade de papel". A reportagem que deu continuidade ao tema, "Conexão Medellín-Facinepe", foi finalista do prêmio do Instituto Prensa y Sociedad (Ipys), a principal distinção de jornalismo investigativo da América Latina. "Perigo no prato" obteve o segundo lugar do prêmio José Lutzenberger de Jornalismo Ambiental. No Prêmio Jornalismo do Ministério Público, o GDI foi agraciado nas categorias TV e impresso com "Fraude nos concursos". Em 2016, o Grupo de Investigação recebeu o Prêmio Antônio Gonzalez de contribuição especial à comunicação da Associação Rio-Grandense de Imprensa (ARI).
Vice-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Vladimir Netto avalia que o GDI, ao investir em reportagens exclusivas, denunciar prejuízos aos cofres públicos e tratar de temas próximos da sociedade, cria identidade com o leitor:
— A criação do GDI significa coragem, compromisso com a busca pela melhor informação, com o leitor e com o bom jornalismo. Estamos em uma crise do modelo de financiamento do jornalismo, e você investir em uma coisa que não dá retorno imediato é um ato de coragem e de compromisso com o bom jornalismo.
Integrante do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e editor-chefe do site de notícias Poder360, Fernando Rodrigues diz que a prática do jornalismo investigativo é vital neste momento de transformação pelo qual passa a mídia:
— Há uma multiplicidade de plataformas, um oceano de informações e muitas fontes oficiais que acabam sendo preponderantes. Por exemplo, o papel do MP e da PF é inegavelmente positivo nas investigações como a Lava-Jato, mas às vezes é uma lástima que o jornalismo fique apenas a reboque das informações fornecidas por procuradores e agentes da PF. Por essa razão é que iniciativas como o GDI propiciam ao jornalismo a possibilidade de buscar de maneira autônoma boas informações.
O case GDI foi apresentado em sete universidades do Rio Grande do Sul e do Paraná, em evento da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e no 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji. A repercussão não surpreende o professor de ética do Master em Jornalismo do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS) Carlos Alberto Di Franco. Para ele, o jornalismo investigativo distingue-se pela profundidade das coberturas e sua maior repercussão, o que é uma estratégia essencial também para o modelo de negócio dos jornais:
— Neste momento que o Brasil vive, o jornalismo investigativo cumpre um papel insuperável. E o público tem uma demanda forte por jornalismo qualificado, está cansado do jornalismo que é apenas oficial.
Matérias do GDI resultaram em mudanças de gestão de órgãos públicos: diretores do Daer e da Procempa pediram demissão após investigação jornalística. As consequências também atingiram outras esferas. Após a reportagem "O homem da faculdade de papel", que denunciou que uma faculdade inativa, a Facspar, integrante do Grupo Facinepe, oferecia cursos de graduação e pós-graduação, emitia diplomas e certificados sem valor legal, o Ministério da Educação instaurou processo de descredenciamento da faculdade. Além de educação e gestão pública, as 31 publicações denunciaram irregularidades em áreas sensíveis como setor imobiliário, uso indevido de agrotóxicos e segurança pública (confira aqui a lista completa de reportagens).