Se o tradicional 7 de setembro movimentou intensamente o Acampamento Farroupilha, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, os patrões de piquetes tiveram de lidar com um público bem menor neste domingo (9). Apesar de um dia receptivo, com cara de primavera, Porto Alegre também teve Gre-Nal, o que dividiu os torcedores: uma parcela ficou no Acampamento e outra foi ao Estádio Beira-Rio, a três quilômetros de distância.
Segundo a diretoria do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), 100 mil pessoas visitaram o Parque Harmonia na sexta-feira, 80 mil pessoas no sábado (8), e 60 mil neste domingo. GaúchaZH visitou o parque durante o horário do Gre-Nal, entre 16h e 18h. A atmosfera pulsante da partida, que tradicionalmente costuma movimentar os ânimos na Capital, passava longe dali. Futebol não era o foco de muitos. Pouquíssimas eram as pessoas a vestir uma camiseta do Grêmio ou do Inter.
Encontrar um piquete onde houvesse um grande grupo de pessoas dedicadas a assistir à partida também foi complicado: a maioria estava dedicada a uma cervejinha, a um cochilo ou a uma prosa ao lado de uma ovelha sendo assada. Aqui e acolá, poucos eram os grupos dispostos a torcer por futebol – em geral, ao redor de uma televisão improvisada em um tronco de madeira.
No piquete Aporreados, um baile com música de gaita movimentava os presentes desde as 15h. Próximo à parede, algumas pessoas tomavam uma cerveja em mesas e cadeiras de plástico. No meio do salão, um vão dava espaço para sapatos demarcarem o ritmo da música.
— Estava cheio antes, mas o pessoal largou para ir ao jogo. Quando acabar, eles voltam para cá. O Acampamento vai lotar — previa o patrão José Pinheiro, 46 anos.
No Piquete das Gurias, organizado pela Associação Ilê Mulher, que protege mulheres vítimas de violência doméstica, um grupo de seis pessoas conversava sem nem se preocupar com o Gre-Nal. Se tivessem televisão, até assistiriam ao jogo. Rosmari Castilhos, 58 anos, presidente da entidade, conta que a movimentação no Acampamento era maior até o início do jogo.
— Aqui mesmo, do lado, tinha muita gente fardada. Fizeram churrasco e se foram para o jogo — afirmou.
O CTG Tricolor dos Pampas, oficial do Grêmio, naturalmente trazia um grande grupo de gremistas – havia cerca de 50 pessoas torcendo pelo Tricolor. O público assistia à partida de forma comedida, vez em quando entoando algum cântico de apoio.
— Hoje teve churrasco, arroz e salada. O pessoal foi chegando, tem gente que veio no almoço, viu que exibiríamos o jogo e ficou — contou Alex Almões, 37 anos, um dos patrões do piquete.
— Tá sofrido — comentou Roberta Almões, 35 anos, esposa de Alex, sobre o clássico.
Quase escondida em meio aos gremistas, a estudante Vitória Toledo, 19 anos, era uma das únicas coloradas – estava no piquete do Grêmio por conta do padrinho, mas sem vestimenta que denunciasse ser uma intrusa.
— Se o Inter ganhar, eu saio gritando. Vou até botar a camiseta que eu trouxe e não vesti _ afirmou.
No Piquete da Fundação Assistencial dos Servidores do Ministério da Fazenda (Assefaz), a corneteada era livre. Afinal, quem assistia à disputa, enquanto saboreava uma gelada, era um grupo de ex-colegas, amigos há 43 anos. Há duas décadas, eles comparecem ao Acampamento Farroupilha com filhos e netos. A turma chegou às 10h30min, assou um churrasco e prometia fazer, das sobras, carreteiro. No forno de tijolos, assavam pãezinhos.
— Rolam uns xingamentos, sim, mas, depois, a gente se abraça e se beija. São 40 anos de amizade, não vai ser futebol que vai nos fazer brigar — contou a servidora pública federal aposentada Jeanine Azevedo, 60 anos.
— O importante é se divertir. Para mim, já basta o empate para o Inter não ser campeão — provocou o servidor público federal e tricolor Paulo Ribeiro, 58 anos.
Quem passava de longe pelo piquete Potro Sem Dono ouvia cânticos para enaltecer o Internacional. Ao entrar no casarão de madeira, via-se uma pequena televisão com cerca de 20 pessoas ao redor, vidradas na partida. A cada lance, a turma soltava interjeições de alívio ou desespero.
— Aqui, todo mundo está de faca na cintura, mas o intuito é o respeito e a amizade. Algumas pessoas chegaram e foram depois para o jogo. Logo que terminar, vamos tocar uma gaita. E quem foi, volta para comemorar. Ou para chorar as lágrimas — brinca o primeiro capataz Jackson Vidal da Silva.
Ao fim do jogo, carros buzinavam incessantemente enquanto cortavam a Avenida Edvaldo Pereira Paiva. A festa foi dos colorados, já que o Inter venceu por 1 a 0 e se manteve na liderança do Brasileirão.