Diante de uma emergência como as queimadas que atingem parte do Brasil, uma série de profissionais e serviços são demandados para resposta imediata. Técnicos, por exemplo, atuam no combate ao fogo e na prevenção. Engenheiros agrônomos e florestais são chamados para analisar o solo e as áreas degradadas. Foi assim durante as enchentes de 2023 e 2024 no Rio Grande do Sul. É a economia da crise que se movimenta no curto prazo. Porém, as mudanças climáticas exigem uma visão de longo prazo, inclusive na formação de profissionais.
A questão não é mais ‘se’ os eventos extremos vão ocorrer, mas ‘quando’ e ‘com que frequência’. Profissões como hidrólogos e climatologistas, antes pouco conhecidas, agora são fundamentais para projetar soluções, como o melhoramento de sistemas de drenagem urbana e a construção de diques.
Obviamente, a tecnologia tem grande espaço nisso e quem enxergar melhor este futuro largará na frente, diz a diretora de Recursos Humanos da Backlog Solutions, Andressa Paltiano.
– Eventos como a enchente mostram o que levaríamos anos para observar. Basta ver o que aconteceu no data center da Procergs (Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do RS). As informações foram migradas para a nuvem em dias, o que seria um trabalho de meses – lembra.
Desenvolvimento de softwares para previsão e prevenção de desastres; inteligência artificial para cruzar dados; gerenciamento de riscos e de crises; construções sustentáveis e resilientes; estudo das águas e do ar, e o mercado de energia limpa são áreas para se planejar carreira. O futuro terá “empregos verdes”, definidos pela Organização Mundial do Trabalho como aqueles que ajudam a preservar ou restaurar o meio ambiente. Estão nos setores tradicionais, como construção, ou mais recentes, como energias renováveis.
Aliás, a energia está no centro das transformações atuais. A demanda global por energia, tanto nas cidades quanto no campo, cresce cada vez mais, e o foco agora é nas fontes limpas, deixando de lado as fósseis, como carvão, diesel e gás. Segundo o Fórum Econômico Mundial, o setor de energia renovável deverá gerar 30 milhões de empregos em todo o mundo até 2030.
Entendimento e comprometimento
A adaptação do mercado de trabalho às mudanças climáticas, no entanto, não ocorre de forma imediata. Ela exige entendimento e comprometimento por parte de governos, empresas e profissionais, mas, segundo Julice Salvagni, professora do departamento de Ciências Administrativas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), essa resposta não está acontecendo com a urgência necessária. Especialista em processos e relações de trabalho, Julice acredita que a transformação deveria seguir o modelo da Revolução Industrial ou da Indústria 4.0, envolvendo um acordo global entre setores públicos e privados.
– Seria uma política pública de larga escala, com incentivos e punições, que não temos hoje. Pelo contrário, vemos empresas deixando países que endurecem as regras e buscando regiões onde elas sejam mais brandas – avalia.
Superintendente do Instituto Euvaldo Lodi do Rio Grande do Sul (IEL/RS), Bruna Hermes também defende o comprometimento das empresas, das quais partiria a demanda por profissionais preparados para “empregos verdes”. Isso estimularia instituições de ensino a criarem cursos e profissionais a buscarem as qualificações para essas funções. Ainda assim, Bruna pondera:
– A maior parte das nossas indústrias são micro ou pequenas, que têm de um a 19 funcionários. São empresas que estão preocupadas com o agora e não têm alguém para se dedicar só a esse planejamento de longo prazo.
Olhar o futuro
Ainda que as empresas não agilizem a mudança, a necessidade por estes profissionais irá nos atropelar. Quem quiser estar pronto pode se antecipar ao mercado de trabalho.
– Um conselho é olhar o que nos ajudará no futuro. Recursos renováveis, energias alternativas, economia circular e inteligência artificial, por exemplo – pontua a analista técnica do IEL/RS Greice Rossi.
É importante mencionar a já conhecida sigla ESG (Environmental, Social and Governance – em português, Ambiental, Social e Governança). Criada em 2004 pelo Pacto Global da ONU, essa expressão refere-se aos três pilares que devem nortear as práticas empresariais e públicas. Atualmente, há uma ampla oferta de cursos sobre ESG, e é essencial buscar aqueles com uma base sólida e comprometida para garantir que o conceito vá além do discurso e seja realmente aplicado.
– Busque instituições ligadas a profissionais reconhecidos em sua área – orienta a diretora de RH Andressa Paltiano.
Aos poucos, empresas também buscam profissionais que identifiquem práticas sustentáveis falsas para evitar ter suas marcas ligadas ao chamado greenwashing (lavagem verde).
Habilidades verdes
A busca por trabalhadores com competências ligadas à sustentabilidade cresce em média 13% ao ano no Brasil, segundo o relatório Green Skills Report 2023, do LinkedIn Economic Graph. O Brasil é o sexto país do mundo onde os profissionais mais precisam deste tipo de habilidade.
Áreas em evidência no Brasil
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*Fonte: Green Skills Report 2023